12 de fevereiro de 2012

Fique de olho: SWU

Revista Monet 104 - Novembro 2011

Por Itaici Brunetti Perez


Muito rock, pop, rap e o engajamento à causa da sustentabilidade fazem parte do festival que pela segunda vez invade o interior paulista


   O Starts With You (Começa com Você),um dos maiores festivais de música do país, retorna para provar que a arte e a conscientização ambiental podem - e devem - caminhar de mãos dadas. A equipe do Mulstishow estará presente de corpo e alma roqueira no local para transmitir ao vivo cada detalhe desta segunda edição do festival. O evento em Paulínia fortalece o ideal da sustentabilidade, criando um palco específico destinado a fóruns sobre o tema, no qual o principal palestrante será o cantor canadense Neil Young, que virá ao Brasil contar como criou o "carro verde", seu veículo ecologicamente correto.
   No palco, Kayne West, The Black Eyed Peas, Snoop Dog, Peter Gabriel & The New Blood Orchestra, Chris Cornell (ex-Soundgarden e Audioslave), Alice in Chains, 311, Primus, Modest Mouse, Simple Plan, Megadeth, Stone Temple Pilots, Hole, Lynyrd Skynyrd, entre outros despejam seus hits nos ouvidos dos fãs.
   Mas tem muito mais. Fique de ouvidos bem abertos para os nova-iorquinos do Sonic Youth (foto), que trazem seu guitar-noise pela quarta vez ao Brasil e prometem um show digno de comemoração de seus 30 anos de carreira. Também não perca o Black Rebel Motorcycle Club e os irlandeses do Ash, ambos muito esperados pelos brasileiros há tempos. O Faith No More, por sua vez, prepara uma surpresa para os shows da América do Sul. Em seu twitter, Billy Gould, o baixista, adiantou que por esses lados latinos vão apresentar ao vivo e na íntegra o aclamado álbum King For A Day... Fool For A Lifetime, de 1995. Em entrevista à MONET, Nick Rhodes, tecladista dos reis do pop oitentista Duran Duran, outra atração do evento, disse estar ansioso para voltar ao nosso país. "Logo que nosso novo álbum 'All You Need Is Now" saiu, conversamos entre nós que devíamos ir mais vezes à América do Sul. Para a gente, o Brasil sempre foi um dos lugares mais vibrantes para se fazer uma turnê".
   Depois de tudo, para não deixar a saudade bater, no dia 29, às 18h30, estréia o programa Em Busca da Balada Perfeita, em que três jovens "baladeiros de plantão" presenciam a experiência de passar três dias inteiros dentro do festival. Ah, e tem quem diga que o SWU é o Rock in Rio dos paulistas. Faz sentido.


SWU - DIA 12, SÁBADO, 19H; DIA 13, DOMINGO, 18h30; DIA 14, SEGUNDA, 19h, MULTISHOW, 42

9 de fevereiro de 2012

Proibido para menores

Revista Monet 105 - Dezembro 2011

Por Itaici Brunetti Perez e Lidiane Aires


O fenômeno pop Bruna Surfistinha, que nasceu do blog com histórias reais de uma garota de programa, tornou-se best seller e transformou sua autora, Raquel Pacheco, em celebridade. Até virar sucesso de bilheteria


Não é novidade pra ninguém que o filme Bruna Surfistinha é baseado em fatos reais. Mais precisamente sobre a história de Raquel Pacheco, uma jovem de classe média que não se dava bem com os pais e resolveu sair de casa para ganhar a vida como prostituta antes mesmo de completar 18 anos. Ela tinha dois propósitos: satisfazer suas curiosidades sexuais, e claro, fazer dinheiro. Com uma mochila nas costas e o endereço de um bordel nas mãos, a estudante que sonhava cursar psicologia ficou conhecida como a prostituta (e blogueira) mais requisitada de São Paulo. Mas porque Bruna se destacou ao ponto de se tornar uma pessoa publicamente conhecida? Ou o que ela fazia de diferente das outras garotas de programa que rendeu um filme sobre sua vida? Para entender sua trajetória, é importante saber que, segundo ela mesmo, Raquel entrou de cabeça no ramo da prostituição por livre e espontânea vontade e que, para isso, criou uma personagem. "A Bruna era meu alter ego, uma maneira de me preservar. Era ela e não eu que fazia tudo o que o cara queria. Muitas coisas que fiz como Bruna não faria como Raquel", conta a própria autora, hoje 
uma celebridade nacional.
Já a personagem Bruna foi descoberta para o grande público pelo jornalista Pedro Dória em uma reportagem de 2004 para o extinto site NoMínimo. Ele ficou intrigado ao descobrir seu nome no topo de um ranking das melhores prostitutas em um site que reunia clientes que as resenhavam. "Seu sucesso não era porque ela era bonita ou especialista em uma determinada modalidade de sexo. Mas porque era carinhosa e fazia o papel de namoradinha do cara. Ela ouvia suas lamentações e falava ao pé do ouvido. Não era particularmente boa de sexo, mas no pós-sexo", conta.
E foi justamente esse diferencial que conquistou milhares de clientes e chamou a atenção de Marcus Baldini, diretor do filme, que se encantou pela personagem após ler sua biografia, O Doce Veneno do Escorpião - O Diário de uma Garota de Programa (2005). "Além de inspiração, Raquel foi fundamental para a elaboração do filme. Os roteiristas se reuniram com ela para entrevistá-la e também para levantar outras histórias da sua vida. Eu sempre conversava com ela para ter um feedback sobre o que estava achando', revela o diretor, que precisou ficcionalizar algumas situações para que pudesse funcionar perfeitamente com o roteiro e tornar a dramaturgia mais interessante.
   "A própria Raquel, quando assistiu ao filme, me disse que essas situaçõesnão condizentes com a realidade foram tão reais que ela sofreu como se fosse de verdade" diz o cineasta. Jorge Tarquini, coautor de Doce Veneno, afirma que o longa é baseado no livro, mas não é uma adaptação. "São plataformas diferentes. O filme mescla alguns personagens. Pegaram vários clientes e concentraram em um só. Por exemplo, o irmão dela no filme não existe na vida real. Tinha que haver um antagonista".
   Mas a Raquel das telas tem outro nome: o da atriz Deborah Secco, que interpretou o difícil papel  de Bruna nos cinemas. De acordo com a própria atriz, ela não teve nenhum contato com a Raquel antes das filmagens. "Nunca li o livro dela e nem a conheci. Só fiz laboratório com o preparador de elenco, pois queríamos criar a nossa própria Bruna e não fazer uma cópia", conta Deborah. Baldini confessa que, a princípio, ficou preocupado com a escalação da atriz, porque queria afastar o filme do lugar-comum. "Achei que as pessoas estavam sugerindo o nome dela justamente pelo apelo de ser uma mulher bonita e sensual. Eu tinha uma ressalva muito grande em contar a história de uma garota de programa no corpo de uma mulher muito conhecida. Só que, com o amadurecimento do filme, já perto do início das filmagens, nos encontramos para conversar e para minha surpresa percebi que ela tinha entendido completamente o lado dramático da história. Saí de lá certo que ela seria a atriz perfeita para interpretar a Bruna. Foi o grande papael de sua carreira".
    PODE VIR QUENTE... - O lado dramático da história de Bruna/Raquel estava garantido pela própria realidade, mas era preciso também caprichar nas muitas e necessárias cenas de sexo (não explícitas) da protagonista. "Elas servem para o espectador entender todo o drama e a tensão da história da Bruna. Se mostrássemos uma pureza, eliminaria um outro lado mais pop da história, que é um pouco desse conto de fadas que a história tem. As cenas dão ênfase nesse conto", justifica Baldini. E acrescenta: "A Deborah é atriz há décadas e está totalmente acostumada a trabalhar com seu lado sensual. Então não houve constrangimento. As cenas mais difíceis foram as dramáticas, como o primeiro encontro de programa que ela tem, que é uma cena que não aparece quase nada, mas a densidade e a dor do momento envolvem as pessoas".
   Deborah revela que, tanto ela quanto sua empresária, a assessora e o próprio diretor, tomaram o maior cuidado para não prejudicar sua imagem. "Quando aceitamos um trabalho temos que entrar de cabeça e fazer o melhor que conseguimos. Na verdade, as cenas que envolvem drogas foram as mais difíceis, porque é um mundo desconhecido pra mim. Além disso, outra coisa que foi muito difícil foi o fato de filmarmos fora da ordem cronológica. Filmávamos a Raquel adolescente e a Bruna no auge no mesmo dia".
   Antes de Deborah, alguns nomes foram cogitados para interpretar a personagem, como a modelo e atriz Karen Junqueira, que chegou a posar para a revista Trip como a "surfistinha" oficial do filme. Na verdade, o que aconteceu é que a Karen estava entre as pessoas selecionadas para o papel, como outras estiveram, mas nunca foi fechado nada, ninguém bateu o martelo. Foi um equívoco pra todo mundo", esclarece o diretor, que evitou se alongar sobre o assunto. Na época de pré-produção do filme, Jorge Tarquini já havia conversado com Baldini quanto às possíveis atrizes, e em um desses papos a atriz Mel Lisboa também chegou a ser cogitada.
   Mas, nomes à parte, Baldini conseguiu levar até as massas um assunto polêmico e nada fácil, como a prostituição através dos erros e acertos de Bruna/Raquel. É como se ele estivesse convidando o espectador a fazer um programa para conhecer esse universo mais de perto e sem preconceitos. Basta dizer sim.


BRUNA SURFISTINHA, DIA 10, SÁBADO, 22h, TELECINE PREMIUM, 61 E 561(HD)
   
   



8 de fevereiro de 2012

Fique de olho: Sonoridades

Revista Monet 105 - Dezembro 2011


Por Itaici Brunetti Perez


Nelson Motta reúne artistas de várias gerações para cantar o verão do Rio de Janeiro e o resultado desses shows será exibido em quatro partes


   Várias gerações da música brasileira no mesmo palco tocando e cantando o verão carioca em versões fresquinhas de canções que já conhecemos. O projeto se chama Sonoridades e é coordenado por Nelson Motta, jornalista, escritor, compositor e roteirista que circula pelos bastidores da música nacional desde sempre. Foi ele quem chamou jovens e proeminentes artistas como Karina Buhr, João Brasil, Cibelle e Silvia Machete, com músicos mais treinados na estrada, como Arnaldo Antunes, Seu Jorge, Lucas Santtana e o superveterano Erasmo Carlos.
   A idéia é fazer um baião de dois com todos os ritmos que passam pelo trabalho desses artistas: do rock ao funk, do samba ao experimental. Cada mistura dessas será apresentada em quatro partes, de acordo com os fins de semana que esses mesmos músicos tocaram ao vivo no palco do teatro OI Futura, no Rio de Janeiro, em fevereiro deste ano.
   Encontros prolíficos que deram origem a versões pouco imaginadas de clássicos da MPB e até mesmo do pop e rock internacionais.  Imagine então ouvir "Ziggy Stardust", de David Bowie e "The Model", do Kraftwerk, na voz de Seu Jorge e nas batidas do Almaz, banda formada em boa parte por integrantes do Nação Zumbi, com a guitarra virtuosa de Lúcio Maia. Enquanto isso a cantora Silvia Machete divide cena com o tremendão Erasmo Carlos, que chegou a se vestir de caubói para a ocasião.
   O espírito desses encontros, segundo Motta, está pautado pelo que a cidade do Rio de Janeiro inspira em seu calor. "No verão o Rio é muito mais carioca. Tem todo aquele cheiro de novidades, de festa, e tudo é pretexto para o encontro de tribos urbanas que misturam estilos e gerações por um fator comum; a paixão pela música. E o espírito do festival é exatamente esse: de reunir novos talentos, que são estrelas brilhantes, com artistas já consagrados, e divertir o público com esses encontros musicais". Sendo assim, o jeito é sentar e curtir o que todas essas curiosas combinações têm a oferecer.


DIA 15, QUINTA, 21h, CANAL BRASIL, 66



6 de fevereiro de 2012

Sex Appeal

Revista Monet 104 - Novembro 2011


Por Itaici Brunetti Perez


Prazer feminino, sex shops e alguns tabus são quebrados pela comédia nacional De Pernas Pro Ar, que chegou sem pretensões aos cinemas e logo de cara se  tornou um dos maiores sucessos do ano.

Tão aguardado quanto tenso. A estréia de um filme nacional nos cinemas comerciais é sempre um evento cercado pelas expectativas de produtores, distribuídores e suas unhas roídas. Ao contrário de algumas produções made in Hollywood, cujo poder de propaganda pressupõe grandes bilheterias, os títulos nacionais precisam de contorcionismos de marketing e, de preferência, algumas superestrelas estampando o cartaz para entrar com o pé direito em seu primeiro fim de semana de exebição. Pois foi bem quietinha, sem muito alvoroço publicitário, nada de elenco superestelar e espertamente agendada para estrear em um fim de semana teoricamente morno de estréias, que a comédia brasileira De Pernas Pro Ar ultrapassou a marca de mais de 1 milhão de ingressos vendidos apenas na primeira semana de exibição em circuito nacional. Sem cerimônia, passou por cima de superproduções americanas como As Crônicas de Nárnia - A Viagem do Peregrino da Alvorada, Tron - O Legado e Megamente, que estavam em cartaz quando o título nacional entrou em cena, no último dia de 2010.

Mas qual seria o segredo para que um longa-metragem nacional de produção modesta ganhasse tanta força em tão pouco tempo? Ninguém melhor para responder isso que a protagonista da história, a atriz Ingrid Guimarães. No filme, ela é Alice, esposa, mãe, workaholic até o último fio de cabelo e ignorante na ciência do orgasmo. A reviravolta se dá quando a personagem conhece o prazeroso mundo de uma sex shop e começa a trabalhar no ramo.
"Fiz a composição daquela mulher que vive na esquina, da mulher comtemporânea de nossa geração. Rolou uma  identificação das pessoas. Achei que seria um filme em que apenas as mulheres da classe média se espelhariam. Mas não, virou um filme popular. A temática atinge todas as classes sociais. Sei disso por experiência própria. Quando estou na rua, os porteiros, caixas de banco, guardadores de carro e até madames socialites no shopping já vieram falar comigo, dizendo que adoraram o filme. Os homens se identificaram com o João, personagem do Bruno Garcia. Não colocamos a figura masculina como um babaca, que trai e trata mal as mulheres. No filme, ele é um bom moço, que quer que o casamento dê certo. Uma coisa mais próxima da realidade, sabe?"
BOCA A BOCA - Roberto Santucci, diretor do filme, também tem sua opinião sobre o fenômeno: "Tivemos um 'boca a boca' muito forte do público. E como a gente descobriu de antemão que tínhamos esse poder anosso favor, aliamos ele à Rede Globo [a Globo Filmes é uma das coprodutoras do filme], que entrou conosco na divulgação pra valer, preparando os canhões para atirar com força".
Segundo Santucci, o sexo e o prazer, assuntos centrais do filme, podiam servir tanto como isca quanto como motivo de afastamento do público. "Acho que todo mundo tem curiosidade em relação ao assunto. Por outro lado, havia quem achasse que De Pernas Pro Ar seria chulo. Mas o que se provou é que conseguimos tratar de sexo de uma forma elegante, sem ser apelativo. E quando as pessoas começaram a falar bem do filme, o receio sumiu". 
Ingrid aproveita a deixa: "O sex shop em sí é um assunto que interessa a todos, muitas pessoas vão escondidas. É aquela coisa bem brasileira de 'Todo mundo faz, mas não fala' [risos]. Eu mesma sempre gostei de ir com as minhas amigas, mas sempre foi uma coisa com medo e vergonha, pois eu era conhecida, No geral, este tabu melhorou muito após o filme. A mãe pode ver o filme com a filha sem ficar sem graça. Até a terceira idade amou. Outro dia, um ginecologista me parou na praia e disse que aumentou muito a quantidade de senhoras que, depois do filme, o procuraram perguntando se podiam usar objetos sexuais. Acabou virando um filme de sexo para a família", brinca a atriz.
Fernanda Dias, de 21 anos, entrou na sessão porque foi fisgada pelo trailer: "O filme trata de assuntos que causam certo desconforto no público mais conservador. Por isso, achei genial colocar um trabalho que normalmente seria malvisto por aí, como o responsável pela solução dos problemas da protagonista", opina a estudante de letras da USP.
Ingrid, que atualmente acertou entrar no elenco da segunda temporada de Macho Man, da Rede Globo, revela que não esperava esse sucesso todo. "Fiz pouco cinema, e sempre papéis menores. Chegou uma época em que eu só era chamada para fazer pequenas participações, era sempre a cereja do bolo. Foi aí que tomei a decisão de não fazer mais nenhuma participação pequena. Disse para mim mesma: 'Ou faço um bom papel no cinema ou prefiro continuar no teatro'. Daí a Mariza Leão [produtora] telefonou para mim e convidou para este filme. Me identifiquei na hora com aquela mulher do roteiro. E hoje, com toda a popularidade que o filme alcançou, chega roteiro de cinema na minha casa todo mês".
Agora que "sem querer, querendo" a galinha dos ovos de ouro foi encontrada, Santucci afirma que a aventura deve continuar, e em março próximo já começam as filmagens para a continuação das desventuras sexuais de Alice. Desta vez, além do Rio de Janeiro, Nova York também servirá de cenário à trama. Se depender da aceitação e da curiosidade do público, a personagem de Ingrid Guimarães ainda terá quantos orgasmos forem precisos.


James Cameron que se cuide...
As cinco melhores bilheterias nacionais dos últimos tempos atestam a boa saúde do cinema comercial brasileiro


TROPA DE ELITE 2 (2010)
Campeão invicto. Arrecadou mais de R$102 milhões de um total de 11.081.199 pessoas que assistiram ao filme em 703 salas de cinema. Isso sem contar a pirataria.


NOSSO LAR (2010)
O segundo colocado vem distante do lider. Exibido em 443 salas, o filme baseado no livro psicografado de Chico Xavier teve 4.060.000 espectadores e arrecadou R$36 milhões.


DE PERNAS PRO AR (2011)
Estreou em 31 dedezembro de 2010 (mas é considerado um filme deste ano) e já leva o terceiro lugar no ranking. São R$31 milhões arrecadados e 3.563.723 espectadores.


CHICO XAVIER (2010)
O público deu um bom exemplo de fidelidade ao famoso médium brasileiro. 3.414.900 pessoas assistiram ao filme e R$30 milhões foram arrecadados.


MUITA CALMA NESSA HORA (2010)
Comédias nacionais costumam se dar bem. Este é um caso. Rendeu cerca de R$12 milhões com 1.345.204 espectadores em 176 salas de cinema.