9 de fevereiro de 2012

Proibido para menores

Revista Monet 105 - Dezembro 2011

Por Itaici Brunetti Perez e Lidiane Aires


O fenômeno pop Bruna Surfistinha, que nasceu do blog com histórias reais de uma garota de programa, tornou-se best seller e transformou sua autora, Raquel Pacheco, em celebridade. Até virar sucesso de bilheteria


Não é novidade pra ninguém que o filme Bruna Surfistinha é baseado em fatos reais. Mais precisamente sobre a história de Raquel Pacheco, uma jovem de classe média que não se dava bem com os pais e resolveu sair de casa para ganhar a vida como prostituta antes mesmo de completar 18 anos. Ela tinha dois propósitos: satisfazer suas curiosidades sexuais, e claro, fazer dinheiro. Com uma mochila nas costas e o endereço de um bordel nas mãos, a estudante que sonhava cursar psicologia ficou conhecida como a prostituta (e blogueira) mais requisitada de São Paulo. Mas porque Bruna se destacou ao ponto de se tornar uma pessoa publicamente conhecida? Ou o que ela fazia de diferente das outras garotas de programa que rendeu um filme sobre sua vida? Para entender sua trajetória, é importante saber que, segundo ela mesmo, Raquel entrou de cabeça no ramo da prostituição por livre e espontânea vontade e que, para isso, criou uma personagem. "A Bruna era meu alter ego, uma maneira de me preservar. Era ela e não eu que fazia tudo o que o cara queria. Muitas coisas que fiz como Bruna não faria como Raquel", conta a própria autora, hoje 
uma celebridade nacional.
Já a personagem Bruna foi descoberta para o grande público pelo jornalista Pedro Dória em uma reportagem de 2004 para o extinto site NoMínimo. Ele ficou intrigado ao descobrir seu nome no topo de um ranking das melhores prostitutas em um site que reunia clientes que as resenhavam. "Seu sucesso não era porque ela era bonita ou especialista em uma determinada modalidade de sexo. Mas porque era carinhosa e fazia o papel de namoradinha do cara. Ela ouvia suas lamentações e falava ao pé do ouvido. Não era particularmente boa de sexo, mas no pós-sexo", conta.
E foi justamente esse diferencial que conquistou milhares de clientes e chamou a atenção de Marcus Baldini, diretor do filme, que se encantou pela personagem após ler sua biografia, O Doce Veneno do Escorpião - O Diário de uma Garota de Programa (2005). "Além de inspiração, Raquel foi fundamental para a elaboração do filme. Os roteiristas se reuniram com ela para entrevistá-la e também para levantar outras histórias da sua vida. Eu sempre conversava com ela para ter um feedback sobre o que estava achando', revela o diretor, que precisou ficcionalizar algumas situações para que pudesse funcionar perfeitamente com o roteiro e tornar a dramaturgia mais interessante.
   "A própria Raquel, quando assistiu ao filme, me disse que essas situaçõesnão condizentes com a realidade foram tão reais que ela sofreu como se fosse de verdade" diz o cineasta. Jorge Tarquini, coautor de Doce Veneno, afirma que o longa é baseado no livro, mas não é uma adaptação. "São plataformas diferentes. O filme mescla alguns personagens. Pegaram vários clientes e concentraram em um só. Por exemplo, o irmão dela no filme não existe na vida real. Tinha que haver um antagonista".
   Mas a Raquel das telas tem outro nome: o da atriz Deborah Secco, que interpretou o difícil papel  de Bruna nos cinemas. De acordo com a própria atriz, ela não teve nenhum contato com a Raquel antes das filmagens. "Nunca li o livro dela e nem a conheci. Só fiz laboratório com o preparador de elenco, pois queríamos criar a nossa própria Bruna e não fazer uma cópia", conta Deborah. Baldini confessa que, a princípio, ficou preocupado com a escalação da atriz, porque queria afastar o filme do lugar-comum. "Achei que as pessoas estavam sugerindo o nome dela justamente pelo apelo de ser uma mulher bonita e sensual. Eu tinha uma ressalva muito grande em contar a história de uma garota de programa no corpo de uma mulher muito conhecida. Só que, com o amadurecimento do filme, já perto do início das filmagens, nos encontramos para conversar e para minha surpresa percebi que ela tinha entendido completamente o lado dramático da história. Saí de lá certo que ela seria a atriz perfeita para interpretar a Bruna. Foi o grande papael de sua carreira".
    PODE VIR QUENTE... - O lado dramático da história de Bruna/Raquel estava garantido pela própria realidade, mas era preciso também caprichar nas muitas e necessárias cenas de sexo (não explícitas) da protagonista. "Elas servem para o espectador entender todo o drama e a tensão da história da Bruna. Se mostrássemos uma pureza, eliminaria um outro lado mais pop da história, que é um pouco desse conto de fadas que a história tem. As cenas dão ênfase nesse conto", justifica Baldini. E acrescenta: "A Deborah é atriz há décadas e está totalmente acostumada a trabalhar com seu lado sensual. Então não houve constrangimento. As cenas mais difíceis foram as dramáticas, como o primeiro encontro de programa que ela tem, que é uma cena que não aparece quase nada, mas a densidade e a dor do momento envolvem as pessoas".
   Deborah revela que, tanto ela quanto sua empresária, a assessora e o próprio diretor, tomaram o maior cuidado para não prejudicar sua imagem. "Quando aceitamos um trabalho temos que entrar de cabeça e fazer o melhor que conseguimos. Na verdade, as cenas que envolvem drogas foram as mais difíceis, porque é um mundo desconhecido pra mim. Além disso, outra coisa que foi muito difícil foi o fato de filmarmos fora da ordem cronológica. Filmávamos a Raquel adolescente e a Bruna no auge no mesmo dia".
   Antes de Deborah, alguns nomes foram cogitados para interpretar a personagem, como a modelo e atriz Karen Junqueira, que chegou a posar para a revista Trip como a "surfistinha" oficial do filme. Na verdade, o que aconteceu é que a Karen estava entre as pessoas selecionadas para o papel, como outras estiveram, mas nunca foi fechado nada, ninguém bateu o martelo. Foi um equívoco pra todo mundo", esclarece o diretor, que evitou se alongar sobre o assunto. Na época de pré-produção do filme, Jorge Tarquini já havia conversado com Baldini quanto às possíveis atrizes, e em um desses papos a atriz Mel Lisboa também chegou a ser cogitada.
   Mas, nomes à parte, Baldini conseguiu levar até as massas um assunto polêmico e nada fácil, como a prostituição através dos erros e acertos de Bruna/Raquel. É como se ele estivesse convidando o espectador a fazer um programa para conhecer esse universo mais de perto e sem preconceitos. Basta dizer sim.


BRUNA SURFISTINHA, DIA 10, SÁBADO, 22h, TELECINE PREMIUM, 61 E 561(HD)
   
   



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