17 de outubro de 2011

Garganta Profunda

Revista Monet 103 - Outubro 2011

Por Itaici Brunetti Perez

foto André Arruda

  
O som e a fumaça que vêm dos seus lábios provocam a paixão do criador e ao mesmo tempo criatura do filme Natimorto. E quem poderia condená-lo?

Sua voz é o motivo da paixão de Lourenço Mutarelli, autor e ator de Natimorto e ela até já participou de uma faixa do projeto 3 na Massa, mas Simone Spoladore não está nem um pouco interessada em começar uma carreira como cantora. Ímã de personagens arrebatadoras, a atriz curitibana dá detalhes do estranho romance na tela com Mutarelli, que envolve obsessões e muita nicotina. E olha que Simone não fuma. Só profissionalmente.

Como você conheceu a obra Natimorto?

Eu fiquei sabendo por um pessoal de Manaus que eles iam filmar Natimorto. Procurei ler o livro e achei muito interessante a história, fiquei fascinada pela personagem e também pelo jeito como o Lourenço escreve. Pensei: tenho que interpretá-la.

Então você procurou a produção para fazer o papel ou eles te procuraram?

Acho que foram as duas coisas ao mesmo tempo. Tanto eu quanto a produção estávamos interessados. Eu pedi para conversar com o diretor e descobri que ele também estava me procurando, pensando em mim para encenar a personagem. Foi simultâneo.

E você chegou a ver a peça teatral de Mario Bortolotto sobre o livro para se inspirar?

Sim. Fui assistir para ter o conhecimento da peça e conhecer mais de perto todos esses elementos da obra que são essenciais para construir “a voz” da personagem.

Você já conhecia o trabalho de Lourenço Mutarelli?

Tinha ouvido falar do Lourenço mas não conhecia muito o trabalho dele. Li apenas O Cheiro do Ralo e Natimorto. Quando fiquei sabendo que ia fazer o filme, eu fui também procurar os quadrinhos dele para entendê-lo melhor. Só fui conhecê-lo bem durante as filmagens, e foi um privilégio trabalhar com o próprio autor.

Qual foi a cena mais difícil de fazer?

[longa pausa] Talvez a cena em que o Lourenço tem aquele surto, que ele fala que as pessoas são banguelas. Foi uma cena bastante tensa de filmar, mas houve muitas cenas difíceis, porque éramos somente os dois sempre em cena. Tínhamos que ter muita concentração, e a densidade do filme também colaborou com o desafio da dificuldade.

Você acredita que podem existir relacionamentos iguais ao do filme?

Com certeza, sim. Não conheço nenhum próximo, mas deve existir. O que acontece com Natimorto é que a princípio ele oferece um amor de um cara que realmente se apaixona pela voz da minha personagem, mas ela não corresponde a isso, porque está perdida em um mundo de deslumbramento com o que pode acontecer com ela, com sua carreira. Quando ela volta para ele, aquele amor que tinha sido oferecido já está destruído. Mesmo com o retorno, eles são levados à loucura. À loucura dela e à dele mesmo.

O cigarro é outro personagem importante da história. Você fuma?

Não, não fumo.

E como foi trabalhar nesse ambiente rodeado de nicotina?

Ah, tive que aguentar, pois a gente fumava o dia inteiro. E é trabalho, né?! Mesmo quando não estávamos fumando, estávamos dentro daquele ambiente que apelidamos carinhosamente de “cinzeirão”, e ficávamos respirando aquilo o tempo todo. Mas o que me aliviava é que era só por um tempo, depois ia acabar. Deu para aguentar.

Sua personagem carrega “A Voz da Pureza” e você também cantou na faixa “Pecadora”, do projeto musical 3 na Massa. Você gosta da sua voz? Ou já pensou em se aventurar na música e seguir uma carreira musical?

Não, nunca pensei. Na verdade, a minha participação no 3 na Massa... Eu apenas recito um texto, nem chego a cantar. Mas usar a minha voz para cantar, me dedicar a uma carreira musical? Não tenho vontade, não.

Você tem uma característica de fazer sempre personagens dramaticamente intensos, como no caso da Ana, de Lavoura Arcaica, e Oribela, de Desmundo. Você busca esse tipo de personagem? Ou simplesmente acontece?

Existem os dois lados. Eu também fiz recentemente o filme Elvis & Madona, que é uma comédia. Tenho procurado fazer vários papéis diferentes, mas não sei o que acontece com esses papéis mais dramáticos. Talvez seja porque eu me interesso por eles, pelo universo deles. Até gosto dessa imagem minha de carregar personagens dramáticos, não me importo de ser vista assim. Mas também gostaria de fazer mais comédia.

E os trabalhos futuros?

Acabei de fazer dois filmes: Sala de Espera, da diretora Lúcia Murat, e também Sobre Neblina, com a cineasta Paula Gaitán. Logo pintam por aí!   
220 volts

Revista Monet 103 - Outubro 2011

Por Itaici Brunetti Perez

Revelação do teatro de comédia, o ator Paulo Gustavo conseguiu se destacar no cinema e na TV, e agora comemora um programa todo seu.

Ano que vem marcará o início das filmagens de Minha Mãe é uma Peça, longa adaptado do monólogo de sucesso que tem como foco principal Dona Hermínia, uma solitária mãe aposentada à procura do que fazer. Mas enquanto as gravações sob o comando de José Alvarenga não começam, a personagem criada e interpretada pelo ator carioca Paulo Gustavo aproveita para dar as caras (e muitos “pitacos”) no novo programa humorístico 220 Volts, estrelado inteiramente pelo próprio Gustavo.
Mais conhecido como Renée, o cabeleireiro tagarela do filme e seriado Divã, e também por ter feito participações em Minha Nada Mole Vida, A Diarista, Faça sua História e Sítio do Pica-Pau Amarelo, o ator de 32 anos revelou que a ideia do programa surgiu de sua própria vontade em levar para a televisão o que já fazia no teatro há tanto tempo: interpretações de vários personagens dentro do formato stand-up. “Eu sempre digo que stand-up tem três regras básicas: não pode ter cenário, não pode ter figurino e não pode ter personagem. Mas como a peça é minha, o problema é meu, e ninguém tem nada a ver com isso, eu faço o que eu quiser e me transformo em todos os personagens que costumo fazer, e a plateia sempre aprova. Então são essas minhas criações que fazem parte do programa”, conta empolgado, em clima de contagem regressiva para a estreia.
“Em cada episódio tratamos de um tema diferente. Falamos sobre medos, alimentação, namoro, fama, consumo, relacionamento e por aí vai. E entre os esquetes vamos até as ruas, boates, clubes e cinemas para bater um papo com as pessoas”, conta o humorista.
A Senhora dos Absurdos, outro personagem do ator que “bombou” na web, também aparece no programa para opinar e fazer o que sabe de melhor: falar mal da vida alheia. “Nossa, são tantos personagens. Também faço um cara sem noção, um playboy, uma periquita, são muitos”, comenta o ator, que confessa que trabalhar em vários personagens com características e nuances diferentes é muito mais trabalhoso do que ter um personagem único dentro de si mesmo. Ele sabe que o que importa é que todos façam rir.

14 de outubro de 2011

Aqui, lá e em qualquer lugar

Revista Monet 103 - Outubro 2011

Por Itaici Brunetti Perez

Pioneiro no Brasil em TV Everywhere, o MUU chega para proporcionar o melhor entretenimento audiovisual onde você estiver

Ainda não chegamos ao ano de 2015 do longa De Volta Para o Futuro 2, no qual carros e skates voam, ou a 2019, como previsto em Blade Runner, com robôs disfarçados de humanos caminhando entre nós. Mas no nosso real presente de 2011 podemos dizer que conseguimos assistir a programas de televisão em qualquer lugar e levar o entretenimento para onde for. O que já é um grande avanço, se compararmos com a tecnologia e as limitações de alguns anos atrás. E isso só se tornou possível com a chegada de um novo sistema para assistir televisão, denominado TV Everywhere. Na melhor tradução livre: TV em toda parte.
A necessidade de produzir e adaptar conteúdos para serem apreciados em novos gadgets, sem falar do crescimento dos acessos a vídeos on-line, obrigaram as maiores emissoras pagas da televisão mundial a criar seus próprios canais de TV na internet. No endereço de cada um deles, o serviço de vídeos por IP (protocolo de Internet) possibilita ao assinante acessar conteúdos dos canais pagos através da web a qualquer hora do dia, e de onde estiver. Basta possuir um computador de mesa, um notebook, um Blu-ray, um game, dispositivo móvel, smartphone ou um tablet.


A novidade foi lançada há pouco tempo nos Estados Unidos e na Europa. Na terra de Obama, ainda está dando os primeiros passos, diferentemente do Velho Mundo, onde já pegou. De qualquer forma, grandes produtores de conteúdo e entretenimento, como HBO, Warner Channel, CNN, BBC, entre muitos outros, entraram de cabeça na nova empreitada e lançaram seus próprios mecanismos e aplicativos, disponibilizando muito do seu acervo geral, e também conteúdos exclusivos, como coberturas de notícias, entrevistas inéditas e making of de programas.
Na esteira dessa revolução, acompanhando essa demanda toda por informação e entretenimento de fácil acesso, a Globosat, a maior fornecedora de conteúdo da televisão por assinatura no Brasil, criou o MUU (muu.globo.com). O site oferece para os assinantes da NET – somente aqueles que têm nos seus pacotes os canais Globosat – todo o acervo. Até o momento, são mais de cinco mil vídeos e 1.400 horas de material disponíveis on-line para ver e rever.
A programação é para todos os gostos. São títulos de comportamento, esporte, gastronomia, musicais, shows, séries, entrevistas, estilo, humor, realities, documentários, talk shows e grandes filmes de sucesso do cinema, novos, antigos e de todos os gêneros. O documentário esportivo Clubes do Coração, sobre os grandes times brasileiros, e a segunda temporada da série Spartacus são alguns dos exemplos do conteúdo especial do MUU. As aventuras de Bruno Mazzeo em Cilada (Multishow), e as receitas malucas de Paulo de Oliveira e seu Larica Total (Canal Brasil), dois programas que não estão mais na grade de programação da televisão por assinatura, também podem ser relembrados por meio do sistema. Para fazer parte deste universo, basta se cadastrar.
“O MUU só vai poder ser usado por assinante de TV paga. Por meio do seu pacote, a pessoa tem acesso a todo o conteúdo, sem qualquer restrição. Já o não assinante só consegue ter acesso ao conteúdo aberto, que serve como ‘degustação’ do conteúdo da Globosat, que é para conhecer o tipo de programa que levamos ao ar”, explica Gustavo Ramos, diretor de novas mídias da Globosat.
Um bom exemplo da eficiência do MUU é imaginar-se na seguinte situação: você assistiu pela TV aos programas gastronômicos dos canais GNT, como Que Marravilha! ou Diários do Olivier, e ficou maravilhado(a) com um prato delicioso e tentado a reproduzi-lo em casa. Mas aí você se dá conta de que não se lembra do processo todo de preparo, porque não anotou a receita em nenhum lugar. Sem problema. Da sua própria cozinha, acesse o  MUU pelo seu celular ou iPad, procure pelo programa e capítulo que o(a) inspirou e acompanhe passo a passo a receita. Se ainda for o caso de não se lembrar dos ingredientes necessários, quando estiver no supermercado, vá até o MUU pelo seu dispositivo móvel, confira os ingredientes e boa refeição.
Taí uma funcionalidade para assinante nenhum botar defeito, mas Ramos também faz uma breve reflexão sobre o assunto. “A gente não sabe exatamente se esse negócio de TV Everywhere vai dar certo no Brasil. Mas, se der, a gente quer que seja com os nossos vídeos e nossos conteúdos. A liderança que a gente tem no canal linear a gente quer manter também nesse modelo. De qualquer forma, quem ganha é o assinante.”
Ter uma possibilidade como essa ao nosso alcance às vezes é muito mais vantajoso do que carros voadores.
 
Rock in Rio em casa

Revista Monet 102 - Setembro 2011

Por Itaici Brunetti Perez

Nossa reportagem foi atrás de personagens de edições anteriores para contar as histórias do mais importante evento do showbiz nacional, que finalmente vai voltar às origens neste mês

O velho ditado continua certo como nunca – “O bom filho à casa torna” – e o Rock in Rio, um dos maiores festivais musicais do mundo, cumpriu o dito popular. Depois de passear por terras europeias nos últimos dez anos, com edições em Lisboa (Portugal) e Madri (Espanha), o festival de criação 100% brasileira retorna neste mês ao seu país (e cidade) de origem para celebrar sua edição mais ambiciosa até o momento. Mas muita água rolou por baixo desse palco até chegarmos a 2011. 
Elaborada pelo empresário brasileiro Roberto Medina no início da década de 1980 e embasada num mote sustentável e social (“Por um mundo melhor”), a ideia de o Rio de Janeiro comportar um festival de música com vários dias em sua programação e trazendo atrações nacionais e internacionais parecia loucura. Posta em prática, fez nascer uma marca que entrou para a história do entretenimento mundial e que colocou o Brasil no roteiro de shows de artistas internacionais. Além de movimentar consideravelmente o turismo e a economia da cidade.
Sua primeira edição aconteceu em janeiro de 1985, na chamada Cidade do Rock, construída em Jacarepaguá propriamente para o evento. A estreia do ousado espetáculo de Medina contou com o apoio de 28 bandas em dez dias de festival. Ozzy Osbourne, B-52, Rod Stewart, AC/DC e Queen, artistas que até então só tinham sido ouvidos em discos pelos brasileiros, vieram pela primeira vez ao país. Era o sonho se realizando.
A cantora paraibana Elba Ramalho, que se apresentou no festival em 1985, 1991 e 2001, relembra como era a expectativa da novidade: “Admito que não tinha a real dimensão do evento, mas percebíamos que ia ser importante. A ficha só caiu mesmo na semana do show, quando fui ao meu camarim e vi o Gilberto Gil batendo papo com o James Taylor”. George Israel, saxofonista do grupo Kid Abelha, que se apresenta solo na edição 2011 ao lado da banda Os Roncadores, relembra, nostálgico: “O Rock in Rio detonou uma consciência de que o Brasil tinha muito espaço para grandes shows e festivais de rock e que o público existia. Na época, tínhamos um atraso muito grande em relação a shows internacionais e ficamos animados por ver quem estava vindo de fora, por sentir que era uma produção especial, bem diferente do que estávamos acostumados. Além de me apresentar com o Kid Abelha, me lembro de ter visto todos os shows e almoçado com meus ídolos. Foi uma grande curtição. Éramos atração e fãs ao mesmo tempo”.
Para Dinho Ouro Preto, vocalista da banda brasiliense Capital Inicial, o ano não foi de muita sorte. “Eu fiquei mal porque adorava o Queen e o AC/DC, e estava sem dinheiro para ir assisti-los. E mesmo assim minha namorada foi sem mim [risos]”, brinca o cantor, que na época mal sabia que sua banda iria ser convidada para se apresentar em todas as outras futuras edições nacionais como uma das atrações principais. 


 
A EPOPEIA CONTINUA – A cria de Medina foi tomando novas proporções e se mudou para o Maracanã em janeiro de 1991, na segunda edição, onde ofereceu ao público 44 shows em nove dias. Guns n’ Roses, Prince, A-Ha e Faith No More foram alguns dos inéditos da vez. Roberta Medina, filha de Roberto Medina, empresária, produtora de eventos e hoje em dia uma das cabeças por trás do Rock in Rio, se recorda: “Na época eu tinha apenas 12 anos e estava lá como fã. Queria muito ver o New Kids On The Block, passear pelos camarins, mas, claro, sem ter noção alguma de como era trabalhar com produção.”
Elba também possui boas lembranças: “Me apresentei na mesma noite que o Prince, e tinha uma banda, a Happy Mondays, que teve problemas com os instrumentos em cima da hora e me pediram para aumentar o meu show em mais 35 minutos. Claro que adorei e coloquei todo mundo para dançar forró e frevo.” INXS, Sepultura e Guns n’ Roses também detonaram, diz Dinho. “Eles estavam no auge”, comenta o cantor.
Com atraso de dez anos e recebendo muita cobrança dos brasileiros, a terceira edição aconteceu novamente na reconstruída Cidade do Rock em 2001. Foram 160 shows em nove dias, onde R.E.M., Neil Young, Foo Fighters, N’Sync e Britney Spears fizeram a alegria dos fãs. “Só estando lá você percebe a grandiosidade do festival, do local. Foi legal ver o tipo de organização e tocar com aparelhagem de linha para 300 mil pessoas. Não estamos acostumados com esse mar de gente”, disse Roger Moreira, vocalista e guitarrista da paulistana Ultraje a Rigor, que se apresentou em dobradinha com a vizinha de bairro Ira!

ONDE ESTÁ O ROCK? – Neste ano, o Rock in Rio chega “causando” (no bom sentido da palavra). O festival acontece nos dias 23, 24, 25, 29 e 30 de setembro e 1º e 2 de outubro no Parque Olímpico Cidade do Rock, na Barra da Tijuca, e já é sucesso de bilheteria. Bateu recorde de vendas quando seus ingressos se esgotaram em apenas quatro dias, obrigando a produção a abrir um dia extra com novas atrações. “Diferentemente do que acontece no exterior, o Rock in Rio no Brasil marca uma geração. Ele tem um valor emocional muito maior aqui. Fora do país, ele chegou como um produto que precisou conquistar o seu mercado, e aqui o público se sente meio que ‘proprietário’ do Festival.
É esse tipo de relação que temos com o público”, comenta Roberta, que complementa: “Até a cobrança em cima de nós mesmos aqui no Brasil é maior. Temos a responsabilidade de atender às expectativas do público. Tudo aqui é maior, e não só a questão da dimensão do lugar. Não é à toa que teve esse impacto todo sobre a venda dos ingressos.”
Outro fator polêmico presente em qualquer roda de comentários sobre o festival é a extensa variedade de artistas de todos os gêneros musicais que pisam no palco do rock. Dinho Ouro Preto reflete sobre como seria seu mundo perfeito: “Nele, esse espaço seria reservado apenas para as bandas de rock. Afinal, o nome já diz que é uma celebração ‘nossa’. Mas o Brasil é um país peculiar e muita gente que ouve rock também se interessa por outros estilos. A peculiaridade da musicalidade brasileira é ela ser multifacetada, e o festival confirma que um estilo como o rock, que não é nato brasileiro, faz parte da nossa cultura também. O Rock in Rio é a celebração do caleidoscópio cultural brasileiro, e está para o rock no Brasil como a Marquês de Sapucaí está para o samba. É a cara do nosso país! Se fosse nos Estados Unidos ou na Europa, só teria rock”. Roberta finaliza: “Desde a primeira edição, nunca teve só um único estilo. O ‘rock’ que está no nome do festival tem mais a ver com o espírito jovem, irreverente, empreendedor, e de diversão, acima de tudo. As pessoas estão ali pela música e pela experiência. Tem para todos os gostos.”
Independentemente dos estilos e gostos musicais, o evento reaparece em 2011, só que mais maduro, experiente, exigente e maior. Esse é o Rock in Rio,
que, assim como todo filho, é criado para o mundo, mas no fundo é nosso.



O que rolou...

Alguns artistas que passaram pelo festival não saíram dele sem antes deixar muitas histórias para contar

1985
James Taylor veio ao Brasil decidido a dar fim em sua carreira artística, mas se emocionou tanto com o público brasileiro que obteve inspiração para vários hits, entre eles o “Only a Dream in Rio”. Já durante o show de Ozzy Osbourne, uma das atrações mais esperadas pelos roqueiros, uma galinha foi jogada no palco, mas, em vez de mordê-la, como era esperado, o cantor apenas entregou-a para os roadies e garantiu a canja.

1991
Lobão foi guerreiro ao se apresentar depois do curto show do Sepultura. Pegou uma plateia sedenta por rock pesado e travou uma batalha onde as armas eram vaias, copos e garrafas de plástico. Para se defender, usou um capacete de guerra e levou ao palco a bateria da escola de samba da Mangueira. Shaun Ryder, líder dos ingleses Happy Mondays, expoentes do movimento musical de Manchester, prometeu trazer uma montanha de tabletes de ecstasy ao Brasil e enlouquecer todo mundo, mas desistiu na última hora, com medo de conhecer as prisões daqui.

2001
Um dia antes do show do Queens of the Stone Age, o baixista Nick Oliveri visitou um ensaio de escola de samba. Para homenagear a quantidade de pouca roupa que viu, resolveu subir ao palco do jeito que veio ao mundo, apenas vestido com seu contrabaixo. Resultado: foi direto pra cadeia depois da apresentação. Cássia Eller foi outra que resolveu mostrar um pouco de pele. Em uma de suas últimas apresentações, a cantora se empolgou durante a versão de “Come Together”, dos Beatles, e levantou a blusa, revelando que estava sem sutiã.

19 de agosto de 2011

Sentimental demais

Revista Monet 101 - Agosto 2011

por Itaici Brunetti Perez

foto Daryan Dornelles




Ainda à procura da fórmula do amor, Léo Jaime estreia em novo programa que trata sobre relacionamentos e mostra que desse assunto ele entende bem

ATIRE a primeira pedra quem nunca teve uma discussão de relacionamento. Pensando nisso, Léo Jaime se reuniu a Patrícia Koslinski no comando de Detox do Amor. Confinado em um spa no interior de São Paulo, o casal faz de tudo para alinhar a relação de cinco casais da vida real. Na correria entre as gravações de Amor & Sexo, Saia Justa e Detox, Léo bateu um papo com a MONET e aproveitou para dar umas dicas... sobre amor, é claro!

Qual a intenção do programa?
Na verdade, o programa é uma grande D.R. (discussão de relacionamento). É uma desintoxicação de relacionamentos, na qual os casais têm a oportunidade de discutir a relação durante o processo de relaxamento físico do corpo e da mente, enquanto são observados por nós. Também são instigados por uns joguinhos que a gente propõe para eles poderem demonstrar na prática como é que se relacionam, pois uma coisa é como se dizem no relacionamento, outra coisa é como eles se relacionam na ação. Vamos mostrar a intimidade desses casais e apontar como eles lidam com os conflitos, com a relação afetiva. Não é um programa de economia, de política, mas o assunto ali é da maior importância, pois interessa a todo mundo. Ele fala sobre a construção do relacionamento e a manutenção do amor.

Como aconteceu o convite para você participar do programa?
No começo, achavam que tinha que ser apresentado apenas por uma mulher. Mas acho que em função da minha participação no Saia Justa viram que eu poderia fazer parte.

Seu papel é unir ou confundir?
As duas coisas. Nós somos os intermediários entre o telespectador e os casais que estão ali. Ficamos organizando a brincadeira para que eles possam se desnudar diante das câmeras, não no sentido físico, mas no sentido de relacionamento. É como se fôssemos mediadores de um debate, mas não temos a pretensão de influenciar ninguém ali dentro e nem de bancar os terapeutas.

Ultimamente você tem participado de alguns programas que tratam sobre relacionamentos. Por que você acha que sempre te procuram? Você virou um perito no assunto? 
Sou um homem disposto a conversar sobre isso e conheço um pouco sobre mulher, já que trabalhei em revistas femininas e fui colunista de um caderno de educação escrevendo para os jovens, que tem a ver com o universo feminino. Basicamente, eu me disponho a falar abertamente sobre o assunto, e acabaram associando o meu nome ao de um interlocutor das mulheres. Elas sempre querem saber o que nós, homens, pensamos e também o que a gente pensa a respeito do que elas pensam. Todo homem que se dispõe a discutir sobre isso, sobre relacionamento, sobre o que eles sentem, acaba sendo interessante. No geral, parece que só as mulheres estão interessadas em falar e em ouvir, mas não é bem assim, tanto que estou aí.

Você se acha uma pessoa boa de conselhos amorosos?
Não pretendo ser um especialista no assunto, um “terapeuta”. Apenas discuto e converso sobre o que acontece na vida.

No programa, além de conquistar a boa forma, os casais precisam construir uma parceria para poder vencer. Qual é a sua dica para o casal conseguir essa relação sólida? No jogo e na vida. 
A gente não pode ter uma autocrítica e uma crítica muito forte em relação ao parceiro, porque não conseguimos tirar nota 10 em todas as provas da vida, mesmo que estejamos empenhadíssimos. Então, temos que saber conviver com o imprevisto e com o fato de que às vezes as coisas não saem melhores em um dia do que em outros. E tem que ter tolerância com isso, com sua expectativa com você mesmo e em relação ao outro. Sobretudo o bom humor, a leveza e uma certa dose de tolerância, mais do que paciência, são fundamentais para que a coisa funcione bem entre um casal.

E a carreira de cantor, como anda? 
A primeira iniciativa de um material inédito foi regravar “A Fórmula do Amor” com um andamento diferente para a abertura do programa. Tenho algumas canções novas. Talvez grave e as lance na internet. Mas o que me falta é tempo. De qualquer forma, será uma iniciativa independente, pois não tenho contrato com nenhuma gravadora.

Além de cantor, você é ator, apresentador, jornalista, cronista e twitteiro. O que mais falta você fazer?
Sou pobre, né! Tenho que me virar, por isso faço de tudo [risos]. Mas ainda gostaria de lançar um livro e de fazer a trilha sonora de algum espetáculo. Danço conforme a música. Na vida, fui mais atendendo às expectativas do que fazendo o barco andar conforme o trajeto marcado por mim.

Detox do amor dia 26, sexta, 22H30, GNT, 41

Os inimigos do Capitão Nascimento

Revista Monet 101 - Agosto 2011

por Itaici Brunetti Perez e Marina Jankauskas

ilustração André Felix



Lugar de bandido é no cinema. Produções como 400 Contra 1 e Inversão vão fundo em histórias do submundo e remontam uma antiga tradição do cinema brasileiro

Maio de 2006 ficou marcado como o mês que recebeu a maior onda de ataques criminosos a um Estado da federação. Foi quando o Primeiro Comando da Capital (PCC) paralisou São Paulo e demais cidades à sua volta, espalhando o medo entre a população e abrindo ainda mais os olhos do brasileiro diante do crime organizado. O cinema aproveitou esse despertar do público para contar mais de perto essa história do mocinho contra o bandido. Quer dizer, nos casos que vamos ver a seguir, do bandido contra o mocinho.
Caco Souza, diretor de 400 Contra 1 – Uma História do Crime Organizado, viajou no tempo e foi ao ovo da serpente em seu primeiro longa-metragem, quando decidiu retratar a formação de outra grande organização criminosa, o Comando Vermelho. A facção, que controla as principais favelas do Rio de Janeiro, teve seu início na época da Ditadura Militar, no chamado Caldeirão do Inferno, o presídio de Ilha Grande. Foi lá que William da Silva Lima (interpretado por Daniel de Oliveira) e seus companheiros foram trancafiados junto com presos políticos e começaram a se organizar para resistir àquela situação. Foi assim que surgiu o chamado CV, com o slogan de “Paz, Justiça e Liberdade”. O diretor sabia que estava mexendo em um tema polêmico: “Era uma coisa que as pessoas não gostam de ouvir, mas se você não falar sobre isso [o crime organizado], e não colocar esse assunto em pauta, não significa que ele não exista”.
Apesar de controverso, o filme segue uma longa tradição de filmes nacionais que exploram o gênero policial. “O crime é um gênero que o cinema incorporou de uma forma muito forte. Não só o brasileiro, mas o cinema internacional como um todo. Aqui, a indústria cinematográfica tem se estruturado cada vez mais como cinema de gênero, e filmes policiais talvez sejam os mais fortes nesse sentido”, explica o professor Reinaldo Cardenuto, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
Um especialista no tema é o jornalista Carlos Amorim, que escreveu a trilogia literária Comando Vermelho – A História Secreta do Crime Organizado, CV–PCC – A Irmandade do Crime e Assalto ao Poder. Para ele, o cinema é o espelho da realidade: “Os filmes do Zé Padilha [Tropa de Elite 1 e 2] estiveram muito próximos da vida real. Vários outros, como Cidade de Deus, Última Parada 174, Quase Irmãos e 400 Contra 1, retrataram aspectos, cortes, do mundo real. No todo, são uma importante contribuição para o esclarecimento da audiência. Em cada uma dessas produções a gente vê um pedaço do Brasil”. 
Realmente, para muitas pessoas, o que está sendo traduzido para as telas não faz parte somente da ficção. “Alguns presenciam isso nos bairros onde vivem e outros porque frequentemente ouvem falar ou acompanham as notícias da mídia”, esclarece o professor Sérgio Adorno, sociólogo e membro do Núcleo de Estudos da Violência da USP. A proximidade e a identificação que os filmes geram no público são alguns dos motivos pelos quais o gênero policial é tão popular. Mas não são os únicos. Os confrontos entre personagens sempre representaram um aspecto atraente para o telespectador. “O próprio fato de que é uma dramaturgia de aventura, que apela para a violência, que tem confrontos entre heróis e vilões, tudo isso se torna muito atrativo como espetáculo para esse espectador”, completa o professor Cardenuto. 
Ultimamente, no entanto, os heróis não têm lá um caráter muito bem definido. No cinema brasileiro contemporâneo nada é tão simples quanto parece: policiais são corruptos e bandidos não são simplesmente sujeitos do mal. “Na verdade, ninguém é tão do mal e ninguém é tão do bem”, aponta Edu Felistoque, produtor executivo do 400 Contra 1 e diretor do filme Inversão. O próprio título de seu longa procura mostrar que os valores do mundo estão “de ponta-cabeça”. Segundo o autor, existe uma indústria cinematográfica que consome rapidamente Bonnie & Clyde, que são os “bandidos bacanas”, e tantos outros por quem o público acaba se apaixonando. Apesar disso, a glamourização do mau-caráter é justamente a maior crítica aos filmes sobre o crime que humanizam o bandido. “Ao contrário do que se imagina, a gente não está fazendo apologia do crime, ou do próprio William. Eu acho que ninguém sai do cinema achando que ele é bacana, que é um exemplo a ser seguido”, defende Caco.
Apesar da posição polêmica e das críticas, os filmes sobre criminosos estão em alta no Brasil. Os grandes sucessos de bilheteria do gênero e lançamentos de peso, como o recente Assalto ao Banco Central, de Marcos Paulo, são provas disso. No que diz respeito à recepção do público, os bandidos devem continuar “tocando o terror” nas telas. Te cuida, Capitão Nascimento!  

400 contra 1 dia 29, segunda, 22H, Canal Brasil, 66
Inversão dia 15, segunda, 22H, Canal Brasil, 66



Eles roubaram a cena! - Diversos tipos de bandidos fizeram história na ficção do cinema e na realidade da criminalidade nacional

O não-confiável
Baseado em fatos reais, Assalto ao Trem Pagador (1962) mostra que não se pode confiar em bandidos. Grilo (Reginaldo Faria) foi um exemplo e traiu a confiança dos amigos de quadrilha gastando o dinheiro antes da hora.

O iluminado
Jorge, vivido pelo ator Paulo Villaça e apelidado de Bandido da Luz Vermelha é inspirado num dos mais famosos bandidos do noticiário policial. No filme de 1968, o assaltante seduz suas vítimas sempre auxiliado por sua lanterninha inseparável.

O pioneiro
Em Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977), o bandido que deu o nome ao longa foi um dos primeiros a se unir a policiais corruptos. A cada assalto a banco que realizava, ele dava uma parte aos oficiais, o que garantia suas fugas recorrentes.

O cruel
“Dadinho é o caralho, meu nome agora é Zé Pequeno!” Essa frase do filme Cidade de Deus (2002) foi imortalizada no cinema brasileiro e traduz o comportamento de seu autor: um bandido com fortes traços de crueldade e que impõe o terror a toda a comunidade.

Os condenados 
Carandiru (2003) relata o cotidiano de alguns personagens que foram presos por pequenos delitos, mas que viveram a dura realidade do extinto presídio, sendo que alguns não escaparam do massacre comandado pela PM em 1992.

O farsante 
Marcelo Nascimento da Rocha foi filho do dono da Gol, guitarrista do Engenheiros do Hawaii, líder do PCC e outras dezenas de identidades falsas. Quem assume sua identidade é Wagner Moura em VIPs (2010), filme que retrata todas as mentiras desse 171.

Aqui a tela ferve, baby

Revista Monet 101 - Agosto 2011

por Itaici Brunetti Perez



Algumas besteiras, uns palavrões e muito papo- furado fazem parte de um novo programa anárquico comandado por Allan Sieber

Sujeito de barba cerrada abre um livro e começa a ler um verso aleatório em tom sério. É assim que começa Trash Hour, o novo programa de entrevistas (e humor) do Canal Brasil. Mas antes que você estranhe e se pergunte se está assistindo à atração correta, o papo começa a desandar (no bom sentido) e você logo percebe que sintonizou no lugar certo. O barbudo em questão é o cartunista gaúcho Allan Sieber e ele é o responsável por conduzir esse delicado momento de humor politicamente incorreto.
“Quando eu e o Fabiano Maciel [diretor do programa] nos encontramos para discutir sobre o Trash Hour, eu pensei: ‘Poxa, sou ligeiramente gago e não sou íntimo das câmeras. Ele bem que poderia ter arranjado um entrevistador melhor’”, conta o cartunista, seguido de uma gargalhada. Já Maciel complementa no mesmo tom. “O Allan é atípico. Ele fuma e bebe no programa [os convidados também têm a liberdade de fumar e beber], e isso é bom, porque ele improvisa bastante e temos liberdade com ele. No fundo desse mau humor todo, o Allan é um cara elegante. Mas também é o antiapresentador.”
O programa procura fugir do padrão normal dos talk-shows. “Tomamos muito cuidado para não cair em um lado cultural, de levar escritores, artistas de teatro, músicos, pois aí acabaríamos caindo na mesmice. Então fomos atrás de pessoas comuns, mas que são interessantes e que têm profissões inusitadas. Por exemplo: conversamos com um motorista de ambulância, uma camareira de motel evangélica e um metaleiro, ou seja, procuramos não cair no clichê”, conta Sieber, e adianta alguns segredos. “Também tivemos alguns convidados fictícios, como o Adão, o ex-anão, que é um ator interpretando um cara enorme que cresceu rapidamente. Tem também a ex-freira e ex-lésbica, e o Marlon & Mário, que é uma dupla sertaneja esquizofrênica de um homem só, essa coisa inacreditável de um carioca que toca música caipira”. Maciel emenda que “os personagens inventados são os mais bizarros, mas os reais são os mais surpreendentes.”
Para ordernar esse caos, o bate-papo é intercalado pelos quadros “Cinco Coisas Que Eu Odeio ...”, no qual o entrevistador enumera coisas irritantes ao seu redor; “Negão Bola Oito Talk Show”, do já conhecido personagem animado do cartunista; e “Faça Você Mesmo”, em que a Mulher Audiência, interpretada pela curvilínea atriz Thatiana Moraes, ensina utilidades (ou inutilidades) para o dia a dia, concluindo sempre que até do lixo se tira proveito. Trash Hour é, digamos assim, humoristicamente sustentável.

Trash Hour dia 22, segunda, 0h, Canal Brasil, 66

Destino Brasil

Revista Monet 100 - Julho 2010

por Dafne SampaioItaici Brunetti Perez

ilustração André Felix



O sucesso de bilheteria da animação RIO mostra que Hollywood descobriu o país tropical. Além das locações bonitas por natureza, a indústria cinematográfica se interessa pelos nossos talentos


REPENTINAMENTE o gigante adormecido abriu os olhos, deu um bocejo e se espreguiçou, abalando meio mundo. Esta poderia ser a sinopse de uma animação milionária, épica e repleta de vozes estelares. Mas é apenas uma metáfora que fala muito de perto com o presente do país do futuro. Afinal, nunca o Brasil esteve tão em voga como cenário de produções hollywoodianas e seus profissionais tão requisitados lá fora. 
A relação não é tão nova e remonta à década de 1930, quando o ator brasileiro Raul Roulien chegou a ter um breve sucesso em Hollywood, mais ou menos na mesma época em que atuou em Voando Para o Rio (1933), o primeiro musical da dupla Ginger Rogers e Fred Astaire. Sem falar em Carmem Miranda, a primeira imagem brasileira exportada para o mundo. Na década seguinte, as visitas de Walt Disney e Orson Welles ao Brasil geraram a animação Alô, Amigos (1942) e o cultuado e inacabado documentário It’s All True (1942), respectivamente, enquanto Alfred Hitchcock levava Ingrid Bergman a contracenar com imagens projetadas de um paraíso tropical no thriller psicológico Interlúdio (1946).
Dessas primeiras impressões, algumas continuam vivas até hoje em como Hollywood vê (e quer) o Brasil: exotismo, alegria, Carnaval, exuberância, calor, cores, florestas, praias e, acima de tudo, o Rio de Janeiro, nosso denominador comum.
Mas a relação acabou esfriando e Hollywood só voltou a usar o Brasil como cenário importante em 007 Contra o Foguete da Morte (1979), com Roger Moore saindo na mão, no teto do bondinho do Pão de Açúcar, para depois fugir de lancha pela Amazônia. A partir daí, e com o fim definitivo da ditadura militar, entre outras incursões (confira mais no box abaixo), Richard Dreyfuss encarnou um ator que finge ser um ditador em Luar Sobre Parador (1988), e Sean Connery pesquisou a flora em O Curandeiro da Selva (1992). Fernando Serzedelo era jovem quando ajudou a encontrar locações para este último filme. De lá para cá, seu currículo de produções aumentou bastante, principalmente após ter fundado a Villa Filmes no Rio de Janeiro. “Fui produtor de O Incrível Hulk, da parte de 2012 que filmaram aqui no Brasil e agora do Velozes & Furiosos 5: Operação Rio”, afirmou em entrevista para a MONET. E foram estes filmes os responsáveis pela atual volta das boas relações entre o Brasil e Hollywood, após uma nova fase de vacas magras que trouxe bizarrices como Esporte Sangrento (1993), Anaconda (1997), A Garota do Rio (2001) e Turistas (2006). “Estive recentemente em Los Angeles e percebi que todo mundo simpatiza com qualquer projeto que tenha o Brasil ou o Rio de Janeiro envolvido. Até os atores e atrizes se interessam em filmar aqui.”
Dois diretores brasileiros colaboraram bastante para essa reviravolta dentro da indústria cinemato-gráfica americana. Os sucessos internacionais de Central do Brasil (1998) e Cidade de Deus (2002) fizeram com que os cineastas Walter Salles e Fernando Meirelles entrassem no rol dos estrangeiros queridos por Hollywood (e, após Tropa de Elite, o mesmo se deu com José Padilha). Os trabalhos desses cineastas acabaram ajudando também a jogar uma luz internacional no nome de profissionais como o editor Daniel Rezende (que recentemente esteve na equipe de A Árvore da Vida, de Terrence Malick, premiado com a Palma de Ouro em Cannes), o compositor Antônio Pinto e os atores Rodrigo Santoro e Alice Braga.
“É uma soma de fatores. O Brasil agora tem uma imagem de país mais socialmente justo, mais desenvolvido, então começamos a pipocar na indústria cinematográfica internacional, o que abriu os olhos de algumas pessoas para filmar aqui. Aliado a isso tem o fato da próxima Copa do Mundo e das Olimpíadas serem aqui no Rio de Janeiro. A gente sabe que não é bem assim, não é tão desenvolvido e nem socialmente mais justo, mas a verdade é que o país entrou no mapa mundial do cinema”, de acordo com Serzedelo. Tanto é verdade que, entre O Incrível Hulk (2008) e Velozes & Furiosos 5 (2011), nos quais ele trabalhou, o Brasil, mais precisamente o Rio de Janeiro, foi cenário das ações de Os Mercenários (2010), da animação Rio (2011) e de Crepúsculo: Amanhecer – Parte 1 (2011), com Kristen Stewart e Robert Pattinson festejando seu amor entre os cariocas.
O exotismo e a exuberância dos cenários continuam sendo os maiores atrativos para os americanos filmarem aqui, mas cada produção tem uma história diferente. “A ideia de rodar no Brasil já existia antes mesmo da minha escalação para interpretar Sandra”, afirmou, em entrevista à MONET, a atriz Giselle Itié, a única mulher no elenco anabolizado de Os Mercenários. “A diferença é que a verba do filme foi bem alta, se comparada com as produções que rodei no Brasil. Agora, sobre a consistência dos profissionais no cinema nacional... eles não deixam nada a desejar para os do cinema americano.”
O carioca Carlos Saldanha sabe disso, mas como vive nos Estados Unidos desde o início da década de 1990 e possui uma equipe experiente que assinou sucessos animados como os da franquia A Era do Gelo, acabou soltando um bando de americanos nerds na Cidade Maravilhosa durante a pré-produção do longa Rio. O deslumbramento desses profissionais com a cidade serviu como um espelho para as aventuras de Blu, a arara azul que, criada nos Estados Unidos, não sabe voar, mas se vê obrigada a voltar ao Brasil para salvar sua espécie. “Queria mostrar esse impacto que o Brasil dá quando você chega pela primeira vez, aquela coisa da cor, da música, da diversidade, da floresta, do mar. Essas misturas, os contrastes que tem o Brasil, que é uma coisa muito difícil de ver lá fora. Queria criar uma história em torno disso e mostrar o Brasil da perspectiva de um brasileiro, mas com um pouco do olhar estrangeiro”, explicou Saldanha em entrevista para o programa Fantástico.
Os próximos capítulos da saga Brasil-Hollywood já estão rascunhados: Rodrigo Santoro e Sophie Charlotte estarão em The Blind Bastard Club, a ser filmado no Rio com Mickey Rourke e Rosario Dawson; a ficção científica Elysium, do sul-africano Neil Blomkamp, trará os brasileiros Alice Braga, Sonia Braga e Wagner Moura ao lado de Matt Damon e Jodie Foster; Fernando Meirelles voltará a misturar paisagens e atores de vários países em 360; Walter Salles encarou o desafio de adaptar um dos maiores clássicos americanos, On the Road; Heitor Dhalia dirigirá Amanda Seyfried em Gone; e, para coroar a boa fase, um time internacional de diretores e atores assinará o filme em episódios Rio, Eu Te Amo. E alguns achavam que o Brasil estava na pior... 



O Rio continua sendo...
A Cidade Maravilhosa já serviu de cenário para muitos filmes estrangeiros, e a partir deles conseguimos entender como somos vistos lá fora. Alguns são ótimos, como Orfeu Negro, outros não servem como peso de papel – é o caso de Orquídea Selvagem. Separamos aqui estes e outros exemplos de filmes que tiveram o Rio de Janeiro como um personagem à parte. 

Orfeu Negro (1959) 
Tudo começou com a peça Orfeu da Conceição, criada por Tom Jobim e Vinicius de Moraes em 1956. Daí o francês Marcel Camus adaptou para o cinema, acrescentou músicas de Luiz Bonfá e faturou a Palma de Ouro em Cannes e um Oscar.

007 Contra o Foguete da Morte (1979) 
Não dá para pedir realismo em um filme no qual o agente interpretado por Roger Moore vai da Amazônia para as Cataratas do Iguaçu de lancha, e sem mencionar a briga com o vilão Jaws em cima do bondinho do Pão de Açúcar.

Feitiço do Rio (1984) 
Estrangeiros morando em São Paulo, Victor (Joseph Bologna) e Matthew (Michael Caine) vão com suas filhas adolescentes para o Rio de Janeiro, mas Matthew acaba se envolvendo com a filha do amigo. Pense em um climão...

Orquídea Selvagem (1990) 
Foi mais ou menos nessa época que Mickey Rourke começou a afundar a própria carreira e esse filme, repleto de clichês sensuais e tropicais, não ajudou muito, mesmo com a bela presença de Carré Otis, mulher de Rourke na época.

A Garota do Rio (2001) 
Três anos antes de encarnar o Dr. Gregory House, Hugh Laurie viveu um bancário londrino que, depois de ser traído pela esposa, rouba seu banco e foge para o Rio de Janeiro para encontrar suas paixões: o samba e a morena Orlinda.

O caçador de festivais


Revista Monet 100 - Julho 2011

por Itaici Brunetti Perez

foto Renato Parada



Viajando ao redor do mundo atrás dos maiores festivais de música, Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, assume o microfone e encontra um novo desafio: ser apresentador

SE VOCÊ PERGUNTAR A QUALQUER ESTRANGEIRO que nomes lhe vêm à mente quando o assunto é Brasil, provavelmente ele citará Pelé, Ayrton Senna, Ronaldo Fenômeno ou Sepultura, a maior banda brasileira de rock pesado (ou trash metal, para ser mais específico) e que vem levando a bandeira do país mundo afora há 25 anos. Agora, aos 43 anos, Andreas Kisser, são-paulino fanático, pai de família e guitarrista da banda mineira desde 1987, cai na estrada para uma nova aventura à frente da sexta temporada da versão brasileira de Rock Road.
“Na verdade, nunca tive essa experiência de ser apresentador de programa. Já aconteceu algumas vezes na MTV Brasil de pedirem para a banda toda ancorar o programa, escolher os clipes e tal, e para falar a verdade sempre achei um saco fazer isso, nunca tive muita paciência para televisão. Mas achei a proposta do programa incrível: de poder viajar, conhecer festivais, e não só na Europa, mas no mundo inteiro. Passear pelos bastidores, pelo palco, entrevistar o pessoal das bandas, etc.”, contou o músico em entrevista à MONET. 
“Antes de aceitar fazer a atração, assisti a algumas coisas do Rock Road latino com o Zeta Bosio [DJ e lenda da música argentina], que é o apresentador, e disse para mim mesmo: ‘Beleza, vamos ver o que acontece, acho que consigo encarar essa!’ E está sendo ótimo pra mim, porque acabo me atualizando, pois sempre tem umas bandas novas de que nunca tinha ouvido falar, e também tenho acesso aos artistas para fazer as entrevistas. Como conheço a maior parte dos músicos das bandas do circuito musical, facilita bastante este contato. Única coisa ruim é ter que decorar texto.”
Com a agenda lotada de compromissos com o Sepultura, as gravações do novo álbum – Kairos, o 13º disco de estúdio, recém-lançado mundialmente –, Kisser aproveitou a rota de shows da banda pelo exterior para gravar os episódios. “O Sepultura já tinha agendado uma turnê na Europa no ano passado, inclusive passando pelos principais festivais do continente. Então resolvemos tentar fazer os dois juntos, programa e shows, e deu certo! O programa acaba se adaptando aos meus compromissos com a banda. Fiz alguns festivais com o Rock Road e eles acompanharam o Sepultura em outros”, diz o guitarrista em tom de satisfação por ter conseguido cumprir as duas tarefas no mesmo período.
Segundo o músico, o festival de Roskilde, na Dinamarca, e o interativo Sonisphere, foram os que mais o impressionaram. “Lá na Europa eles têm muitos festivais, e na maioria com a característica de misturar vários estilos, que é o caso do próprio Rock in Rio, que teve sua edição em Madri, Lisboa e agora volta ao Brasil em setembro próximo.” E continua: “Uma coisa que percebi viajando é que hoje em dia os grandes festivais brasileiros não devem nada aos gringos. Antigamente era diferente, mas hoje não. Temos estrutura, equipamento e produção de primeira. O próprio Rock in Rio, em sua primeira edição, em 1985, foi um exemplo disso, pois deu um know- how que foi levado daqui pra lá. Muito também por causa dessa proposta de mistura de estilos. E como foram quase dez dias de festival, foi uma revolução na época.”
Agora, no segundo semestre, o Brasil será invadido por festivais. E o Rock Road estará presente? Andreas não pensa duas vezes em responder e adianta: “Pretendemos filmar sim por aqui, e como o Sepultura vai se apresentar no Rock in Rio, com certeza o programa estará junto com a gente neste e também em outros festivais brasileiros. Outra novidade da próxima temporada que posso adiantar é que vou substituir o guitarrista Scott Ian do Anthrax por duas semanas na turnê mundial do Big 4 [festival que reúne os quatro maiores nomes do heavy metal: Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax] e com certeza o Rock Road estará lá para registrar essa diversão toda”. Quem pensa que vida de músico é só diversão, Kisser e sua agenda abarrotada de compromissos estão aí para provar o contrário. Com ele, não tem corpo mole, o negócio é pegar pesado, tanto no rock quanto na vida. 



QUEM SABE FAZ AO VIVO - Os festivais apresentados por Andreas Kisser no Rock Road podem ficar longe de sua casa, mas não de sua televisão. Confira abaixo uma seleção especial, e essencialmente roqueira, de shows

GLASTONBURY 2010 
Considerado um dos maiores festivais a céu aberto do mundo. Nesse especial em cinco episódios, que cobre a comemoração dos 30 anos do evento, podemos ver a apresentação de bandas como Muse e Vampire Weekend.

FESTIVAL OXEGEN 2010 – ARCADE FIRE 
Vencedores do Grammy 2010, com o elogiado The Suburbs, os indies do Arcade Fire mostram que no palco a banda pega fogo. Não à toa, o show desses canadenses é um dos mais esperados em solo brasileiro.

AO VIVO NA ILHA DE WIGHT – THE WHO 
Um time que tem Pete Town¬shend, Roger Daltrey, John Entwistle e Keith Moon não é qualquer um. Nessa histórica apresentação, eles pulam, giram o microfone e destroem os instrumentos, literalmente.
LIVE AT THE PARADISE IN BOSTON – PIXIES
Para a alegria dos fãs do bom e bem feito rock de garagem, Frank Black convocou os membros originais dos Pixies e resolveu sair excursionando por aí. Apresentação cheia de hits como “Debaser” e “Hey”.

DEATH ON THE ROAD – IRON MAIDEN
Eles não inventaram o heavy metal, mas são uma das maiores (senão a maior) bandas do gênero. Nesse espetáculo, eles apresentam a turnê do álbum Dance of Death em um palco bastante ousado.

18 de agosto de 2011

O riso é delas

Revista Monet 99 - Junho 2010

por Itaici Brunetti Perez e Marina Marques

foto Sylvia Santos

OS MACHÕES QUE SE CUIDEM, POIS AS MULHERES DECIDIRAM ACABAR COM ESSA IDEIA DE QUE NÃO ENTENDEM E NEM SABER FAZER COMÉDIA. OLÍVIAS NA TV CHEGA AO MULTISHOW PARA REFORÇAR A CORRENTE

FOI LÁ NA DÉCADA DE 1980 que quatro amigos circenses e politicamente incorretos, chamados de Os Trapalhões, conquistaram uma nação. E foi a presença, o timing e o carisma de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias que implantaram a sementinha do humor nas então meninas Renata Augusto, Sheila Friedhofer, Cristiane Werson e Marianna Armellini. Já crescidas, elas formaram o quarteto As Olívias, e agora estreiam com pompa e bagunça no Multishow, como mais um reforço nessa atual e bem- sucedida onda de mulheres comediantes.
Cristiane, uma das quatro Olívias, diz que a década de 80 foi um gigante celeiro do humor: “Não só de Trapalhões, mas de todos aqueles filmes da Sessão da Tarde, do Leslie Nielsen, a TV Pirata, etc. Tudo isso nos inspirou. As novelas eram muito boas, pois tinham personagens supercarregados, as atrizes e os atores não tinham o menor pudor, e não existia essa preocupação com a imagem como acontece hoje, fora um monte de gente esquisita. As mocinhas das novelas não eram tão lindas, eram pessoas normais como nós. Então crescemos vendo muito humor e mulheres fazendo humor. Enxergamos ali que podíamos brincar também.”
Encorajadas por essas influências, as quatro amigas seguiram voluntariamente até a escola de arte dramática e ali fizeram nascer a peça teatral As Olívias Palitam, e depois veio o sucesso da série As Olívias Queimam o Filme, na internet, na qual as moças se divertem com situações do dia a dia, sempre com um debochado olhar feminino. Agora, na TV, e com 30 minutos de duração, as humoristas encontraram um novo desafio pela frente. “Fizemos dois anos de websérie, cada ano com oito episódios, e cada episódio com três minutos de duração. Cada programa Olívias na TV equivale a um ano e meio de websérie. Ou seja, estamos trabalhando como loucas” comenta Sheila em tom empolgado, e resume: “O programa é como se fosse nossa websérie, só que uma atrás da outra, tudo juntinho.”
As Olívias, tanto as do programa quanto as atrizes na vida real, fazem parte de uma leva de mulheres que vêm levando o humor muito a sério dentro de um universo que sempre foi dominado pelo sexo masculino. Em tom de humor, Sheila desabafa: “Às vezes me sinto como uma mulher no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), porque para as pessoas é difícil aceitar uma mulher dentro do ramo da comédia. E olha que nem acho que tenha menos mulheres na área, mas é que elas aparecem menos que os homens”. Cristiane continua: “Engraçado que dentro do universo humorístico a gente não sente preconceito, não sentimos disputa, os humoristas se apoiam indiferentemente do sexo. São as pessoas de fora que veem a gente como estranhas no ninho.”
Marianna esclarece que existe uma diferença entre humoristas mulheres e humoristas homens, e que talvez faça o público estranhar: “Uma mulher não se permite ser o centro das atenções de uma mesa de bar, rir alto, ou falar palavrão. Ela não se coloca na posição de uma outra pessoa para fazer uma piada e tirar sarro de si mesma. As mulheres são engraçadas por natureza, elas são loucas, e se elas se permitissem serem mais loucas, serem elas mesmas, a gente teria mais mulheres no humor”, conclui.
Dani Calabresa, humorista que faz parte do programa Comédia MTV e apresenta o telejornal cômico Furo MTV, é da mesma opinião. “A mulher é engraçada, sim. E eu realmente acho a rotina da mulher mais engraçada que a do homem. Temos rituais de beleza, regime, simpatia pra encontrar homem, não é à toa que eles adoram interpretar personagens femininos [risos]. Mas, por vaidade, a mulher tem vergonha de assumir isso. O homem pode soltar pum na mesa, falar palavrão, e a mulher tem que ser delicada e ter uma outra postura.”
Oitava integrante e única mulher do grupo televisivo CQC, Mônica Iozzi define que a diferença do humor entre mulheres e homens está na calça jeans: “Ambos usam, mas as diferenças estão lá, né? [risos] No humor é igual. Mas quando eu entrei no CQC percebi que o público estava sentindo falta de uma mulher, porque essa demanda está muito forte. Quando eles abriram o concurso, estavam procurando por uma mulher porque as coisas estão mudando, fazia falta uma pessoa do sexo feminino no programa. Então eu acho que estamos vivendo um momento muito bom. Tomara que mais mulheres apareçam por aí.”
Guerra dos sexos à parte, as novas caras da comédia brasileira afirmam que fazem humor para um público coletivo, e não para um sexo específico. Marianna simplifica: “A gente faz o que acha engraçado para quem quiser nos assistir, seja homem ou mulher. Mas é claro que as mulheres se identificam ao nos verem atuando”. Prestando atenção na porção masculina da plateia, Cristiane tem certeza de que “eles se sentem à vontade e vão com a gente, sabe? Se tornam quase femininos”. Uma confusão assim só pode acabar em piada. 





A OLÍVIA SHEILA

“Fizemos um aglomerado de esquetes na internet e começamos a apresentar para os amigos. No final de 2005, estreamos o nosso próprio espetáculo e não paramos mais. Hoje temos certeza de que fazer a websérie foi um passo muito acertado em nossa vida, porque a gente viu que podemos produzir para um meio diferente do teatro.”

MÔNICA IOZZI

“Sempre me identifiquei com a comédia, gostei, mas nunca pensei em trabalhar diretamente com isso, e meio que acabou sendo uma surpresa. Eu era muito fã do programa [CQC], resolvi me inscrever e não é que deu certo? Eu falo que caí de paraquedas nesse meio, que era uma coisa de que eu era fã, mas que nunca tinha feito realmente. Então eu tive que aprender fazendo, e me sinto aprendendo ainda.”

DANI CALABRESA

“Minha irmã mais velha começou a fazer teatro e me levou para participar de uma peça. Ela era a Branca de Neve e eu o Dunga, o anão mudo [risos]. A partir daí, eu sempre fiz cursos de teatro, me apaixonei pelo palco e descobri que tinha preferência e facilidade em interpretar papéis cômicos. Eu lembro que as meninas disputavam ‘a tapa’ os papéis das mocinhas, das princesas, e eu queria ser um pirata, ou um coveiro.”

Na ilha de fantasia

Revista Monet 98 - Maio 2011

por Itaici Brunetti Perez

ilustração Luciana Martins Perez




Um mergulho no estranho e mágico universo de Onde Vivem Os Monstros, best-seller infantil que virou filme

Dizem que as crianças são todas iguais, umas mais arteiras, outras mais quietas e por aí vai. Mas uma coisa é certa: Max Records, o personagem principal (vivido pelo ator com o o mesmo nome na vida real) de Onde Vivem os Monstros, tem uma característica que todas possuem – usar a imaginação para mergulhar em aventuras extraordinárias. E é com ela que o garotinho imperativo e mimado de apenas 9 anos de idade foge de casa após uma discussão com sua mãe por causa de uma malcriação, e rema até uma ilha onde encontra vários monstrengos grandalhões e ao mesmo tempo assustadores, mas que aparentemente são inofensivos e muito carentes de alegria e diversão, duas coisas que o garoto tem de sobra para dar.
O longa-metragem é uma adaptação do clássico livro infantil e homônimo do ilustrador Maurice Sendak (lançado originalmente nos Estados Unidos em 1963). Espertamente, o diretor Spike Jonze (dos cultuados Quero Ser John Malkovich e Adaptação) deu vida e muita personalidade aos personagens, transformando o livro, que possui apenas dez frases (exatamente 338 palavras distribuídas em 40 páginas), em uma fantasia audiovisual para todas as idades. Um filme repleto de muita balbúrdia, mas que no fundo trata de um sensível relacionamento de amor e amizade entre o pequenino e os monstrinhos, ou monstrões, no caso. Quando Max gritar: “Deixe a bagunça começar”, é hora de retroceder alguns anos e por algumas horas embarcar nesta aventura sem medo nenhum de ser feliz. A criança que vive dentro de você agradece. Dia 23, segunda, 21h, HBO, 71

Cada um do seu jeito
Os monstros de Max são fofinhos, não muito bonitinhos, ora felizes, ora tristes, e carregam uma delicadeza na personalidade que muitas vezes remete aos atos das crianças, mas também dos adultos. Conheça-os um pouquinho mais:

O complicado
Carol, o líder do grupo, se torna imediatamente o melhor amigo de Max. Tem a personalidade instável e sempre alterna momentos dóceis com furiosos. Seus companheiros de ilha sempre o tratam com muita cautela.

A sensata

Paixão de Carol, KW resolve se afastar do grupo por não concordar com suas brincadeiras e com a constante mudança de humor de seu líder. Carrega um sentimento materno que a faz se aproximar de Max.

O mais velho

Ira não tem autoestima alguma e está sempre pra baixo, mas consegue se divertir na companhia dos amigos. Especialista em cavar buracos em árvores, é o responsável pelo subterrâneo do forte que constroem.

A emburrada

Namoradinha de Ira, Judith é pessimista ao extremo. Está todo o tempo reclamando e gorando o que os outros fazem, é o baixo-astral em pessoa, ou melhor, em forma de monstro. Mas tem um ótimo coração.

O carente

É o menor e também o menos notado da turma e sofre por isso. Alexander está sempre querendo chamar a atenção, mas nunca tem êxito. Também é desconfiado com tudo ao seu redor.

O tranquilo

Quieto, calado e pouco falante. O Touro mete medo quando aparece, mas é outro que carece de atenção e amor. Se ele tem uma única fala durante a aventura toda, é muito.

O amigo

Douglas é o fiel escudeiro de Carol, tanto que o próprio já disse que se tivesse que levar algo para uma ilha deserta, seria ele. É tão fiel ao seu melhor amigo que daria um braço por ele. Literalmente.


Os monstrinhos e a cultura pop

Música animada
Karen O, a descolada líder do grupo norte-americano Yeah Yeah Yeahs, convocou algumas crianças e formou o “Karen O and The Kids” para executar a trilha  sonora do filme.  Resultado: belas melodias indies acompanhadas de vozes infantis deliciosamente desafinadas ao fundo.

O favorito do presidente
Que Barack Obama é um apaixonado por literatura, todos nós já sabemos. Mas, em uma leitura para crianças na Casa Branca, o atual presidente dos Estados Unidos revelou que Onde Vivem os Monstros é um de seus livros de cabeceira, ao lado de Moby Dick, de Herman Melville.

O primeiro de muitos
Podemos dizer que sem a obra literária de Sendak, a Pixar Animation Studios não existiria. John Lasseter, um dos fundadores da empresa, responsável pelos sucessos de Toy Story e Up , entre outros, se inspirou no livro dos monstrinhos e o transformou em teste para o que seria a primeira animação feita por computação gráfica.

Por trás das criaturas
A fama do livro (e do filme) concedeu ao seu autor um programa nos moldes de um documentário sobre sua vida. Converse com Elas: um Retrato de Maurice Sendak (dia 13, sexta, 15h45, HBO2) mostra a intimidade de sua personalidade complexa e atormentada. Dirigido pelo próprio Spike Jonze.

O mano e a mina

Revista Monet 98 - Maio 2011

por Itaici Brunetti Perez

foto Marcos Hermes


Os detalhes da inusitada e deliciosa parceria entre Caetano Veloso  e Maria Gadú. a dupla esbanja talento e simpatia em registro  do multishow, provando que a música vai além de qualquer abismo entre gerações

Muito antes de a moça nascer, ele já tinha aprontado o diabo a quatro na Terra. Foi um dos fundadores da Tropicália, acabou sendo censurado e preso ao ganhar a inimizade da ditadura militar brasileira no final da década de 1960, lançou mais de 20 álbuns conceituados, entre eles os aclamados Transa (1972) e Jóia (1975), e dividiu os mais distintos palcos com os maiores nomes da música popular brasileira. Estamos falando de Caetano Veloso, que, atualmente com 68 anos, firma parceria musical com sua aliada mais jovem, a cantora Maria Gadú, de apenas 24 aninhos, no especial inédito Multishow ao Vivo – Maria Gadú e Caetano, que chega este mês às telas.
A apresentação é resultado de uma parceria que vem acontecendo desde maio do ano passado. Para inaugurar uma nova sede da Globosat, a produtora convidou os dois para fazer alguns minishows de voz e violão. “Eles queriam dois nomes de gerações diferentes e perguntaram se nós não faríamos alguma coisa juntos, e ambos dissemos que sim”, diz Caetano, que afimou que a admiração entre eles já existia e a química apareceu logo no primeiro encontro. “Eu tinha visto a Gadú cantar no primeiro show que ela fez na extinta Cinematècque, em Botafogo, já como profissional e com um disco por sair. De cara gostei muito do jeito dela, e vi que é muito musical. Parecia um moleque e cantava como uma cantora segura e doce. Daí, quando nos encontramos, escolhemos umas três músicas para cantar no pocket show e “Rapte-me, Camaleoa”, que já era parte do repertório dela, entrou logo no repertório e acabou sendo escolhida para ilustrar o Prêmio Multishow de 2010, onde repetimos a dose, e acabou virando uma turnê.” Gadú complementa que “tinha acabado de fazer o Multishow ao Vivo – Maria Gadú, mas os shows com ele estavam tão gostosos que não tinha como a gente não registrar”.
Para a apresentação completa entraram músicas dele, músicas dela e algumas surpresas. “A gente se reuniu um dia na casa do Caetano e foi falando do que gostava, contando histórias da vida, e, quando vimos, o repertório já estava pronto”, brinca Gadú, que sabia de cor muitas canções do cantor baiano. “Às vezes, era ela quem me relembrava as letras. Além disso, a menina toca com muita segurança e desenvoltura, de modo que tudo fluía de forma muito fácil”, afirma Caetano Veloso. A cereja do bolo ficou por conta de uma versão de ‘Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa. “Gadú já cantava essa música e ela mesma sugeriu que eu também a interpretasse. Para mim, foi um dos maiores prazeres fazer esse show, pois adoro o samba de Adoniran e o tratamento dado por Maria Gadú ficou maravilhoso para a gente cantar”, diz o cantor.
Mesmo depois de alguns meses na estrada, com casas de shows lotadas, Gadú ainda não se acostumou em ter um ídolo musical ao seu lado no palco todos os dias. “De vez em quando eu esquecia, e quando olhava para o lado tomava um susto. Era como se o Caetano tivesse saltado do CD para o meu lado, sabe? Tudo foi muito emocionante. Era impossível conter as lágrimas”, diz a cantora paulistana, radicada no Rio de Janeiro, mais uma vez emocionada.
Após terminar a gravação do novo álbum de inéditas da “mana” Gal Costa, trabalho no qual Caetano está totalmente centrado no momento, ele adianta que na sequência começa a escrever composições inéditas junto da banda Cê (trio jovem que o acompanhou nos recentes discos Cê e Zii e Zie). Gadú também segue pensando em um álbum de inéditas para o ano, mas pode ser que essa parceria interrompa os planos de cada um. “Na verdade, não é impossível de acontecer. Agora que existe o DVD do show, pode ser que a gente viaje um pouco com nossos violões para celebrá-lo e divulgá-lo”, adianta Caetano. Mas disso os fãs certamente não reclamarão, nem mesmo aqueles chatinhos que torcem o nariz para a jovem Gadú.

Maria Gadú e Caetano, dia 22, domingo, 23h, Multishow, 42

Sobreviventes

Revista Monet 97 - Abril 2011

por Itaici Brunetti Perez

foto Rafael Andrade/ Folhapress

Prestes a completar três décadas de carreira, os Paralamas do Sucesso finalizam sua atual turnê, a do disco Brasil Afora, com um registro ao vivo, participações de Pitty e Zé Ramalho e pique de sobra

HERBERT VIANNA, JOÃO BARONE E BI RIBEIRO, os três mosqueteiros do pop rock nacional, que portam bravamente seus instrumentos há praticamente 30 anos, possuem um status que muitos músicos do Brasil devem invejar: o de melhor apresentação ao vivo da atualidade. Tal afirmação tem como base algumas premiações, sendo que a mais recente foi a de “melhor show do ano” no Video Music Brasil de 2009, bem como a performance que chega agora ao Multishow, Paralamas Brasil Afora.
Acompanhado por um time de profissionais experientes, o grupo formado no Rio de Janeiro no final dos anos 1970 subiu aos palcos do Espaço Tom Jobim na capital carioca em dezembro de 2010 para apresentar músicas de seu último álbum homônimo. “A gente queria muito fazer este registro porque tanto o disco quanto os shows foram muito bem recebidos”, comenta o baterista João Barone. Já o vocalista Herbert Vianna é mais específico: “Um disco ao vivo é um registro muito verdadeiro do momento musical da banda, tanto na sonoridade quanto no desenvolvimento técnico dos músicos.” Barone retorna lembrando que “o palco é o grande barato, pois é lá que você tem que jogar pra galera, tem que fazer o gol”. Golaços esses que são marcados quando a banda executa as músicas “Ela Disse Adeus”, “Lourinha Bombril”, “Alagados”, “Uma Brasileira” e “Lanterna dos Afogados”, dentre muitos outros hits. “O show do Brasil Afora é diferenciado por conter muitas canções do álbum, mas o auge das nossas performances são as músicas mais antigas e elas não podem faltar no repertório”, explica João.
Para reforçar a artilharia, o trio, que na verdade conta com teclados e metais no palco, recebe a visita de dois grandes artistas do Nordeste – o paraibano Zé Ramalho e a baiana Pitty. “Zé, que canta a música ‘Mormaço’, é um cara que nós já pagávamos o maior respeito, mesmo antes dos Paralamas existirem. A Pitty participou com a gente no Ceará Music ano passado e aceitou na hora o convite. Ela mesma escolheu a música ‘Tendo a Lua’ para cantar”, conta o baterista. “Pra gente foi uma alegria sonora pelo fato de o intervalo de gerações não representar uma barreira no nosso entusiasmo com estes dois artistas”, complementa Herbert. E Barone brinca que “no fundo acabamos agradando do admirável gado novo ao admirável chip novo [risos].”
É fato que esses incansáveis batalhadores da música brasileira, mesmo depois do acidente de Herbert, que o deixou numa cadeira de rodas, em 2001, não querem saber de arredar o pé da estrada. “Temos muito gás de tocar e encontramos nosso segundo fôlego pra isso, sabe, ainda temos essa ‘faísca’ como se fosse no início da banda. Tem artistas que chegam onde a gente chegou e querem ir pra casa, cuidar dos filhos, da família ou se dedicar a estudar o leão-marinho [risos]. Nós não. Se quiséssemos, a gente faria shows todos os dias. Tem muitos recantos do Brasil em que ainda não tocamos, desde os palcos mais nobres aos mais toscos. Precisamos conhecê-los”, diz Barone.
Sobre o futuro, tudo pode acontecer: um disco de inéditas no decorrer do ano, talvez algum projeto acústico e, claro, muitos shows. Entre os planos mais reais estão uma turnê na América do Sul e nos Estados Unidos e, segundo Barone, uma possível (mas não confirmada ainda) apresentação em um grande festival de rock no Brasil. Alguém aí pensou no Rock in Rio? A ver (e ouvir).

Livre, leve e soltinha

Revista Monet 97 - Abril 2011

por Itaici Brunetti Perez



A protagonista da nova série brasileira da HBO, Mulher de Fases, aproveita cada minuto de solteirice em aventuras amorosas com ritmo cômico

PARA ALGUMAS MULHERES, NÃO ESTAR EM UM relacionamento é quase como uma morte em vida, enquanto para outras é momento de crescimento, diversão e independência. Graça (Elisa Volpatto), protagonista da série Mulher de Fases, nova produção da HBO no Brasil e que chega à TV neste mês, encontra-se muito bem na segunda opção. Está recém-separada e não tem medo algum de se entregar a um novo caso de amor.
Filmada em Porto Alegre (RS) e realizada em parceria com a produtora Casa de Cinema, a série totaliza 13 episódios e relata os encontros e desencontros de uma bela jovem descontraída, corretora de imóveis (mas sem casa própria) e que absorve a personalidade de cada homem com quem se relaciona como se fosse uma esponja. Para se ter uma ideia, no primeiro capítulo a moça se envolve com dois homens – um fumante e outro místico.
Resultado: acaba se tornando uma consumidora assídua da nicotina e, ao mesmo tempo, extremamente espiritua¬lizada, que compra incensos e acredita que o mundo tem outra dimensão. Em outros capítulos, surfistas, psiquiátricos, personal trainers, homens mais velhos, mais novos e muitos outros preenchem sua listinha de relacionamentos casuais.
A própria atriz explica: “A Graça está louca para ser amada novamente. Ela está no auge da feminilidade e em busca da sua cara-metade, mas sem ficar procurando. Em cada homem que conhece, ela enxerga uma pequena possibilidade de ser ‘o cara’”. Mas Graça não está sozinha. Hilda, sua mãe, vivida pela atriz Mira Haar, não sai do pé da filha, e torce para que ela volte para o ex-marido, Gilberto (Rodrigo Pandolfo), outro que vira e mexe também marca território na vida da ex-esposa, esperando uma brecha de carência para tentar recuperá-la. E ainda tem os conselhos “pé no chão” e sarcásticos da amiga Selma (Antoniela Canto), que é mãe de Teresa (Júlia Assis Brasil), a garotinha de 12 anos de idade que em muitas situações parece ser mais madura que as moçoilas crescidas que a cercam.
Inspirada no livro Louca por Homens, de Claudia Tajes, e com título retirado do sucesso da banda Raimundos (que virou tema de abertura), Mulher de Fases retrata os relacionamentos modernos de forma muito bem-humorada e divertida. Tanto que, num dos capítulos em que Graça cisma em manter o espírito (e o visual) jovem, ela pergunta a sua mãe: “O que é pior? Ser punk, ter cabelo dreadlock ou casar?”. Elisa Volpatto responde confiante, em nome da mãe de sua personagem: “Casar, óbvio!”