18 de agosto de 2011

O mano e a mina

Revista Monet 98 - Maio 2011

por Itaici Brunetti Perez

foto Marcos Hermes


Os detalhes da inusitada e deliciosa parceria entre Caetano Veloso  e Maria Gadú. a dupla esbanja talento e simpatia em registro  do multishow, provando que a música vai além de qualquer abismo entre gerações

Muito antes de a moça nascer, ele já tinha aprontado o diabo a quatro na Terra. Foi um dos fundadores da Tropicália, acabou sendo censurado e preso ao ganhar a inimizade da ditadura militar brasileira no final da década de 1960, lançou mais de 20 álbuns conceituados, entre eles os aclamados Transa (1972) e Jóia (1975), e dividiu os mais distintos palcos com os maiores nomes da música popular brasileira. Estamos falando de Caetano Veloso, que, atualmente com 68 anos, firma parceria musical com sua aliada mais jovem, a cantora Maria Gadú, de apenas 24 aninhos, no especial inédito Multishow ao Vivo – Maria Gadú e Caetano, que chega este mês às telas.
A apresentação é resultado de uma parceria que vem acontecendo desde maio do ano passado. Para inaugurar uma nova sede da Globosat, a produtora convidou os dois para fazer alguns minishows de voz e violão. “Eles queriam dois nomes de gerações diferentes e perguntaram se nós não faríamos alguma coisa juntos, e ambos dissemos que sim”, diz Caetano, que afimou que a admiração entre eles já existia e a química apareceu logo no primeiro encontro. “Eu tinha visto a Gadú cantar no primeiro show que ela fez na extinta Cinematècque, em Botafogo, já como profissional e com um disco por sair. De cara gostei muito do jeito dela, e vi que é muito musical. Parecia um moleque e cantava como uma cantora segura e doce. Daí, quando nos encontramos, escolhemos umas três músicas para cantar no pocket show e “Rapte-me, Camaleoa”, que já era parte do repertório dela, entrou logo no repertório e acabou sendo escolhida para ilustrar o Prêmio Multishow de 2010, onde repetimos a dose, e acabou virando uma turnê.” Gadú complementa que “tinha acabado de fazer o Multishow ao Vivo – Maria Gadú, mas os shows com ele estavam tão gostosos que não tinha como a gente não registrar”.
Para a apresentação completa entraram músicas dele, músicas dela e algumas surpresas. “A gente se reuniu um dia na casa do Caetano e foi falando do que gostava, contando histórias da vida, e, quando vimos, o repertório já estava pronto”, brinca Gadú, que sabia de cor muitas canções do cantor baiano. “Às vezes, era ela quem me relembrava as letras. Além disso, a menina toca com muita segurança e desenvoltura, de modo que tudo fluía de forma muito fácil”, afirma Caetano Veloso. A cereja do bolo ficou por conta de uma versão de ‘Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa. “Gadú já cantava essa música e ela mesma sugeriu que eu também a interpretasse. Para mim, foi um dos maiores prazeres fazer esse show, pois adoro o samba de Adoniran e o tratamento dado por Maria Gadú ficou maravilhoso para a gente cantar”, diz o cantor.
Mesmo depois de alguns meses na estrada, com casas de shows lotadas, Gadú ainda não se acostumou em ter um ídolo musical ao seu lado no palco todos os dias. “De vez em quando eu esquecia, e quando olhava para o lado tomava um susto. Era como se o Caetano tivesse saltado do CD para o meu lado, sabe? Tudo foi muito emocionante. Era impossível conter as lágrimas”, diz a cantora paulistana, radicada no Rio de Janeiro, mais uma vez emocionada.
Após terminar a gravação do novo álbum de inéditas da “mana” Gal Costa, trabalho no qual Caetano está totalmente centrado no momento, ele adianta que na sequência começa a escrever composições inéditas junto da banda Cê (trio jovem que o acompanhou nos recentes discos Cê e Zii e Zie). Gadú também segue pensando em um álbum de inéditas para o ano, mas pode ser que essa parceria interrompa os planos de cada um. “Na verdade, não é impossível de acontecer. Agora que existe o DVD do show, pode ser que a gente viaje um pouco com nossos violões para celebrá-lo e divulgá-lo”, adianta Caetano. Mas disso os fãs certamente não reclamarão, nem mesmo aqueles chatinhos que torcem o nariz para a jovem Gadú.

Maria Gadú e Caetano, dia 22, domingo, 23h, Multishow, 42

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