18 de agosto de 2011

O sonho não acabou

Revista Monet 96 - Março 2011

por Itaici Brunetti Perez




Ele já deu umas bitocas em Janis Joplin e foi desejado por Axl Rose, mas o mítico Serguei não quer mais saber do passado e pretende fazer da Websérie Serguei rock show uma ponte entre as loucuras roqueiras de muitas gerações

Sem sexo, sem idade e solto pela cidade. É assim que se define Sérgio Augusto Bustamante, o roqueiro mais antigo do Brasil, que só agora tem a chance de mostrar quem realmente é no programa Serguei Rock Show. Isso mesmo: o lendário Serguei é o protagonista de uma nova websérie do Multishow e, por telefone, direto do Museu do Rock, lugar onde reside em Saquarema (RJ), adiantou à MONET o que os internautas podem esperar de sua nova e louca empreitada.
“Estou contente demais, pois é a primeira vez que ganho um programa só meu. Nele conto coisas da minha vida, canto, faço comentários e também entrevisto artistas do underground. Sou uma pessoa totalmente livre e a verdadeira liberdade está na mente”, reflete o cantor. “A equipe da Multishow estava procurando um cenário psicodélico e eu disse: ‘Ué, isso é a casa onde eu moro’. Foram dez programas em uma semana e dez horas de gravação por dia. Quase me mataram”, brinca.
Aos 78 anos de vida e 44 de carreira artística, Serguei viu toda a história do rock passar diante de suas pupilas e sempre faz questão de relembrar tudo, mesmo que por vias tortas: “Adoro o Elvis Presley, que é uma coisa linda, mas a maior obra literária musical de todos os tempos é dos Beatles. A música ‘Yesterday’ é uma coisa divina. Por isso que hoje, um moleque de 16 anos descobre um LP dos Beatles e se fascina. Os anos 1960 estão aí para ajudar a manter o rock no mundo.” Dos artistas atuais, a cantora Amy Winehouse é a que mais faz a sua cabeça. “Gosto dessa inglesa, essa doida. Aquilo ali é uma coisa fantástica, me lembra uma poesia daquele americano doido que fundou o movimento hippie.”
O “Divino do Rock” se conforma por nunca ter feito sucesso musical, mas continua por aí se jogando pelos palcos onde é chamado. “A gente conhece o artista de verdade nos shows. Quando a estrela pisa no palco, ela brilha, as luzes se acendem e você se transforma no mais íntimo do seu sentimento, da sua loucura, do seu sexo, e o público corre para você. Recentemente, em Brasília, ganhei 19 beijos na boca, 13 da rapaziada no camarim e 6 das mulheres. Eles queriam me beijar e eu dizia: ‘Tudo bem, escovou os dentes?’ Entendeu? Tem que enlouquecer!”, diz em tom alto e empolgado.
Além de um célebre romance vivido com a cantora norte-americana Janis Joplin no final da década de 1960, a Era de Ouro do Rock lhe traz muitas outras lembranças. “Uma vez a Janis ficou de me apresentar o Jimi Hendrix. Eu vi o cara colocar o braço pra fora do carro. Eu e Janis estávamos no quarto do hotel e ela desceu para conversar com ele na rua, e me disse: ‘Você, por favor, não desça’. Fiquei chateado porque queria conhecer ele. Já na terceira edição do Rock in Rio, quem gostou muito de mim foi o Axl Rose. Ele saiu gritando pelo backstage: ‘Pelo amor de Deus, segurem esse louco que eu tenho que conhecê-lo’. Mas eu estava cansado pra caramba. Eles tocaram muito tarde e não deu para ficar no show deles”, relembra.
Mesmo vivendo como se estivesse no passado, o rockstar precisou se adaptar a algumas modernidades da web. “O twitter é um barato! Sou eu mesmo lá no meu perfil (@sergueirock). O povo gosta de todas as doideiras que falo, mas tem alguém que me ajuda a escrever.” Mas também demonstra uma certa insatisfação: “Essa geração é anestesiada. O pai pega a criança e coloca na frente do computador e ela acaba ficando inibida. Se quer alguma coisa, ela procura na máquina e não na vida. Ainda vou mostrar a minha bunda na internet, só não pensei como”.
Agora os internautas poderão descobrir um pouco da psicodelia que existe nesta mente dócil e sem limites. Depois dos agradecimentos de praxe pela entrevista, Serguei devolve emocionado: “Eu que agradeço o espaço e também por vocês lembrarem de mim. Esse é o meu jeito de contribuir para manter o bom e velho rock and roll vivo”. Como já cantarolava Neil Young: “Hey, hey / My, my / Rock and Roll can never die”, e Serguei assina embaixo.


MITO OU VERDADE? - Serguei esclarece aqui algumas lendas sobre sua esguia figura


VOCÊ JÁ FOI COMISSÁRIO DE BORDO? “Verdade. Fui comissário de bordo antes de virar artista. Mas daí preferi o Diabo e me mandaram embora. Mas acho que estou muito mais sexy assim.”

E ESSA HISTÓRIA DAS ÁRVORES?

“Isso foi uma brincadeira. Eu estava andando na estrada dos cajueiros e me deu um tesão danado. Como não tinha ninguém por perto para me censurar, mandei ver. Na hora de me limpar, me esfreguei em uma árvore. Daí, em uma entrevista para o Jô (Soares), que é muito sacana e inteligente, ele disse que eu comi a árvore. E eu disse: ‘É, Jô, comi!’”.

VOCÊ MEXEU NA BOCA PARA FICAR IGUAL AO MICK JAGGER?

“Mentira. Nunca mexi na minha boca para ficar igual a ninguém, principalmente ao Mick Jagger. Sempre tive lábios carnudos e sensuais. Tenho horror de todos aqueles que, em vez de criar, copiam as pessoas. Mas acho que me pareço muito com o Steven Tyler, vocalista do Aerosmith. Outro dia eu liguei a televisão e tomei um susto, me perguntei: ‘Sou eu ali? O que é isso? Meu Deus, que loucura!’”.

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