17 de agosto de 2011

Pop candango

Revista Monet 85 - Abril 2010

por Itaici Brunetti Perez




APÓS DOIS DISCOS LANÇADOS E MAIS DE UMA DÉCADA USANDO A ORÇA DA INTERNET, MÓVEIS COLONIAIS DE ACAJU MOSTRA TAMBÉM QUE BOA HISTÓRIA SE CONTA AO VIVO

TUDO COMEÇOU EM ALGUM ponto do século 18, na região onde fica agora o estado do Tocantins. Os portugueses e os índios javaés se uniram para tomar de volta a Ilha do Bananal, que estava sob domínio dos ingleses. A destruição de móveis feitos da madeira acajus mognole originou a Revolta dos Acajus. Três séculos depois, esse momento histórico é lembrado nos palcos de todo o país pelos brasilienses do Móveis Coloniais de Acaju. Neste caso em particular, no Auditório do Ibirapuera (SP), quando a banda teve seu primeiro show registrado em vídeo com pompa e circunstância, que o Canal Brasil exibe neste mês.
Flauta, escaleta, trombone, gaita cromática, saxofone, guitarra, bateria, baixo, teclados e nove integrantes saltitantes em cima do palco são os ingredientes que compõem a “feijoada búlgara”, o termo musical dado pelos próprios músicos para definir o som que fazem. Nascida em 1998, com influências que transitam entre ska, rock, pop, ritmos brasileiros e do Leste Europeu, o Móveis tem dois discos lançados: Idem (2005) e C_mpl_te (2009), e sempre tiveram a internet como sua maior aliada, pois o grupo é defensor ferrenho da distribuição gratuita de MP3, rincipalmente de suas composições, o que lhe garantiu a simpatia dos internautas. Mas foram seus shows empolgantes, sempre envolvendo o público nas performances, que lhe garantiram um lugar especial no cenário musical independente atual.
Uma das marcas registradas de suas apresentações é aquela famosa dança russa (trepak), mas com intensa participação do público. “Ela aconteceu pela primeira vez em Goiânia, seis anos atrás. O local comportava cinco mil pessoas, mas tinha uns 100 pagantes apenas. Tínhamos acabado de comprar nossos microfones sem fio e resolvemos descer até o público e experimentar a dança. Deu certo, e agora temos que fazer em todo show. Ela representa muito bem o nosso contato com o público, de se divertir e fazer o show junto”, relembra Esdras Nogueira, o saxofonista do conjunto.
André Gonzales, vocalista do grupo, conta que as músicas do segundo disco deram uma renovada no show, e, com elas, novos momentos de interação com o público vêm surgindo. “Uma coisa interessante que aconteceu recentemente foi que alguns fãs se organizaram e criaram um momento inédito no show. Em certa parte, quando todos se agacham, músicos e público, eles soltaram balões coloridos. Foi uma atitude que partiu do próprio público, criando um momento só deles. Ficou muito bonito e gostaria de viver isso novamente.”

DE MENTIRINHA
Dirigido pelo cineasta Marco Altberg, numa coprodução do Canal Brasil com o próprio conjunto, o show traz duas músicas inéditas, que caíram muito bem entre os sucessos “Bem Natural”, “Cão-Guia”, “Lista de Casamento” e as conhecidas “Perca Peso”, “Menina-Moça” e “Seria o Rolex?”. “Apresentamos a canção ‘Mergulha e Voa’, que gravamos para comemorar os 30 anos do projeto Tamar [órgão dedicado à preservação das tartarugas-marinhas], e também a cantiga popular ‘Se Esta Rua Fosse Minha’”, revela André.
Interação, improvisação e muita alegria são a receita do Móveis, grupo que soube até aplicar um trote bem-humorado em muita gente (da imprensa, inclusive) em relação à origem do nome da banda. Afinal, todo bom historiador sabe que a Revolta dos Acajus é pura fantasia. O importante é que eles acreditam na coisa e seus muitos fãs também. O resto é diversão.

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