18 de agosto de 2011

O riso é delas

Revista Monet 99 - Junho 2010

por Itaici Brunetti Perez e Marina Marques

foto Sylvia Santos

OS MACHÕES QUE SE CUIDEM, POIS AS MULHERES DECIDIRAM ACABAR COM ESSA IDEIA DE QUE NÃO ENTENDEM E NEM SABER FAZER COMÉDIA. OLÍVIAS NA TV CHEGA AO MULTISHOW PARA REFORÇAR A CORRENTE

FOI LÁ NA DÉCADA DE 1980 que quatro amigos circenses e politicamente incorretos, chamados de Os Trapalhões, conquistaram uma nação. E foi a presença, o timing e o carisma de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias que implantaram a sementinha do humor nas então meninas Renata Augusto, Sheila Friedhofer, Cristiane Werson e Marianna Armellini. Já crescidas, elas formaram o quarteto As Olívias, e agora estreiam com pompa e bagunça no Multishow, como mais um reforço nessa atual e bem- sucedida onda de mulheres comediantes.
Cristiane, uma das quatro Olívias, diz que a década de 80 foi um gigante celeiro do humor: “Não só de Trapalhões, mas de todos aqueles filmes da Sessão da Tarde, do Leslie Nielsen, a TV Pirata, etc. Tudo isso nos inspirou. As novelas eram muito boas, pois tinham personagens supercarregados, as atrizes e os atores não tinham o menor pudor, e não existia essa preocupação com a imagem como acontece hoje, fora um monte de gente esquisita. As mocinhas das novelas não eram tão lindas, eram pessoas normais como nós. Então crescemos vendo muito humor e mulheres fazendo humor. Enxergamos ali que podíamos brincar também.”
Encorajadas por essas influências, as quatro amigas seguiram voluntariamente até a escola de arte dramática e ali fizeram nascer a peça teatral As Olívias Palitam, e depois veio o sucesso da série As Olívias Queimam o Filme, na internet, na qual as moças se divertem com situações do dia a dia, sempre com um debochado olhar feminino. Agora, na TV, e com 30 minutos de duração, as humoristas encontraram um novo desafio pela frente. “Fizemos dois anos de websérie, cada ano com oito episódios, e cada episódio com três minutos de duração. Cada programa Olívias na TV equivale a um ano e meio de websérie. Ou seja, estamos trabalhando como loucas” comenta Sheila em tom empolgado, e resume: “O programa é como se fosse nossa websérie, só que uma atrás da outra, tudo juntinho.”
As Olívias, tanto as do programa quanto as atrizes na vida real, fazem parte de uma leva de mulheres que vêm levando o humor muito a sério dentro de um universo que sempre foi dominado pelo sexo masculino. Em tom de humor, Sheila desabafa: “Às vezes me sinto como uma mulher no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), porque para as pessoas é difícil aceitar uma mulher dentro do ramo da comédia. E olha que nem acho que tenha menos mulheres na área, mas é que elas aparecem menos que os homens”. Cristiane continua: “Engraçado que dentro do universo humorístico a gente não sente preconceito, não sentimos disputa, os humoristas se apoiam indiferentemente do sexo. São as pessoas de fora que veem a gente como estranhas no ninho.”
Marianna esclarece que existe uma diferença entre humoristas mulheres e humoristas homens, e que talvez faça o público estranhar: “Uma mulher não se permite ser o centro das atenções de uma mesa de bar, rir alto, ou falar palavrão. Ela não se coloca na posição de uma outra pessoa para fazer uma piada e tirar sarro de si mesma. As mulheres são engraçadas por natureza, elas são loucas, e se elas se permitissem serem mais loucas, serem elas mesmas, a gente teria mais mulheres no humor”, conclui.
Dani Calabresa, humorista que faz parte do programa Comédia MTV e apresenta o telejornal cômico Furo MTV, é da mesma opinião. “A mulher é engraçada, sim. E eu realmente acho a rotina da mulher mais engraçada que a do homem. Temos rituais de beleza, regime, simpatia pra encontrar homem, não é à toa que eles adoram interpretar personagens femininos [risos]. Mas, por vaidade, a mulher tem vergonha de assumir isso. O homem pode soltar pum na mesa, falar palavrão, e a mulher tem que ser delicada e ter uma outra postura.”
Oitava integrante e única mulher do grupo televisivo CQC, Mônica Iozzi define que a diferença do humor entre mulheres e homens está na calça jeans: “Ambos usam, mas as diferenças estão lá, né? [risos] No humor é igual. Mas quando eu entrei no CQC percebi que o público estava sentindo falta de uma mulher, porque essa demanda está muito forte. Quando eles abriram o concurso, estavam procurando por uma mulher porque as coisas estão mudando, fazia falta uma pessoa do sexo feminino no programa. Então eu acho que estamos vivendo um momento muito bom. Tomara que mais mulheres apareçam por aí.”
Guerra dos sexos à parte, as novas caras da comédia brasileira afirmam que fazem humor para um público coletivo, e não para um sexo específico. Marianna simplifica: “A gente faz o que acha engraçado para quem quiser nos assistir, seja homem ou mulher. Mas é claro que as mulheres se identificam ao nos verem atuando”. Prestando atenção na porção masculina da plateia, Cristiane tem certeza de que “eles se sentem à vontade e vão com a gente, sabe? Se tornam quase femininos”. Uma confusão assim só pode acabar em piada. 





A OLÍVIA SHEILA

“Fizemos um aglomerado de esquetes na internet e começamos a apresentar para os amigos. No final de 2005, estreamos o nosso próprio espetáculo e não paramos mais. Hoje temos certeza de que fazer a websérie foi um passo muito acertado em nossa vida, porque a gente viu que podemos produzir para um meio diferente do teatro.”

MÔNICA IOZZI

“Sempre me identifiquei com a comédia, gostei, mas nunca pensei em trabalhar diretamente com isso, e meio que acabou sendo uma surpresa. Eu era muito fã do programa [CQC], resolvi me inscrever e não é que deu certo? Eu falo que caí de paraquedas nesse meio, que era uma coisa de que eu era fã, mas que nunca tinha feito realmente. Então eu tive que aprender fazendo, e me sinto aprendendo ainda.”

DANI CALABRESA

“Minha irmã mais velha começou a fazer teatro e me levou para participar de uma peça. Ela era a Branca de Neve e eu o Dunga, o anão mudo [risos]. A partir daí, eu sempre fiz cursos de teatro, me apaixonei pelo palco e descobri que tinha preferência e facilidade em interpretar papéis cômicos. Eu lembro que as meninas disputavam ‘a tapa’ os papéis das mocinhas, das princesas, e eu queria ser um pirata, ou um coveiro.”

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